Sorve o verso, sopra a prosa

Não espere o momento perfeito pra viver. Ele não virá. Viva intensamente a imperfeição. Ela acontece todo dia.

A obra

( viste a página do livro no facebook )

Raro encontrar obras mesclando verso e prosa. Ler Sorve o verso, sopra a prosa é como caminhar por uma galeria. Suas paredes suportam sentimentos variados. Interpretá-los não é complicado. É um passeio suave.

São 65 poesias e 45 crônicas que abordam temas variados: família, sentimento, trabalho, amizade, natureza. Adota um padrão leve, natural e direto de escrita.

Para alguns pode ser uma galeria de espelhos. Às vezes enxergarão a si mesmos. Em outras, serão espelhos com ângulos que refletirão pessoas próximas. Não encontrarão super-heróis, a maioria das personagens popula seu dia-a-dia.

Versos surpreendentes, breves. Ou ainda, rebuscados na forma, sutis no conteúdo. Crônicas inspiradas em pessoas, experiências, situações não tão hipotéticas.

Enfim, é um livro pra ser saboreado aos poucos, sem sequência definida. Algo pra se visitar quando bater a vontade. Um alívio muito benvindo.

Segue um trecho do prefácio, redigido por Eloi Zanetti:

... O que faz o meu amigo Carlos Eduardo do Nascimento, profissional do ramo da TI – Tecnologia da Informação – escrever um livro, ora carregado de inspirados poemas, ora de boas e saborosas crônicas? É que, em meio a tantos cálculos e projetos ele deixa sua alma se manifestar e expõe o que tem de mais valioso, a sua sensibilidade ...

O autor

Carlos Eduardo do Nascimento

Carlos é natural de Joinville e mora em Curitiba há mais de 30 anos. Tomou gosto pela escrita há pouco mais de dois anos. Começou com crônicas falando de seu dia-a-dia e se arriscou na poesia logo em seguida.

Atua na área de tecnologia de informação e gestão de empresas, áreas aparentemente não propensas ao exercício da arte de escrever. Mas tem se sentido muito bem com a experiência literária.

O livro "Sorve o verso, sopra a prosa" é sua primeira obra.

( visite sua página no facebook )

Galeria dos versos

Trechos e alguns versos
na íntegra!

Era Assim / Vida servida / Jornada / Mão e mão / Toma lá, dá cá / Eu queria / Bipolar / Tenha um caso / Alma tua / Meu caminho, nosso destino / Carreiras e paragens / Meu lugar / Propósito e vontade / Bate e volta / Analgésico / Ser, ter, sentir, viver / Mana / No ano que vem / Gol de nuca / Vida pontuada / Sem saída / Tudo de mau / Pormenor / Futuro / (In) Definição / Pra você / Aniversário / Tive / Amor e força / Mar, confidente / Um dia céu, outro dia chão / Só pra mim / Às vezes passa batido / Tempo de viver / Tu, lugar único / Amor e ninho / Fecha os olhos, respira fundo / Ressuscita / (Ben)Dito amor / Se ... / Angústia / Abraço / O gosto dos lábios / Empatia labial / Sentigo / Abraço e colo / Sonho / Cinco atos, cinco sentidos / Lacre aparente / Curativo / Musa onírica / Conjugação perfeita / Parto da amizade / Esse cara, o amigo / Puro reflexo / À prova de desalento / Beleza renitente / Adão e lua / Florada em novembro / Por que não? / sABer / Manifesto civil / Ela, Maria / Tu, vento. Eu, porta. / Força maior / Coisas de mãe

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Era assim

Mordia o verbo

Mastigava a rima

Digeria o verso

Arrotava a prosa

...

Vida servida

Ah, se a vida fosse servida, assim, feito comida
Com o cardápio na mão, eu chamaria o Garçom
E pediria então, a minha entrada da vida:

Encontros mágicos
Projetos malucos
Desejos aceitos
Começos perfeitos

Com o paladar atiçado
Gordices, beiços lambidos
Vontade, lábios mordidos
Como prato principal, triunfal:

Amizades sinceras
Amores intensos
Momentos plenos
Finais serenos

Pra acabar, o recomeço
Vivi bastante, me lambuzei
Agora o doce eu mereço
Lá vem a sobremesa, açucarada beleza:

Saudades boas
Certezas - nenhuma
Olhares refletidos
Sonhos divididos

Pra conta eu faço um trato
Da vida não trouxe nada
Já tô de alma lavada
Não custa lavar os pratos.

Galeria

Jornada

Novos braços, novo abraço

Cedo, de casa distante

Com horizonte gigante

Inteiro fez do pedaço

...

Mão e mão

Uma mão lava a outra, troca
Uma mão leva a outra, cumplicidade
Uma mão leva à outra, atração
Uma mão leve à outra, paz
Uma mão louva a outra, admiração
Uma mão livra a outra, luta
Uma mão enluva a outra, conforto
Uma mão eleva a outra, apoio

Galeria

Toma lá, dá cá

Tome

    juízo pra se dar o respeito

    atitude pra se dar valor

    vergonha pra se dar conta

...

Eu queria

Quem dera andar mão com mão

Talvez colorir teu sonho

Limar de vez teu sufoco

Zerar medo e solidão

...

Bipolar

Quanto mais silencio

Mais a mente grita

Aquieta, agita

Tempestade, estio

...

Tenha um caso

Se a gente for falar de sites certinhos, com certeza o da Ashley Madison não deve estar entre os primeiros. Seu slogan: "Life is short. Have an affair". Mas a ideia, em si, até que não é má.

A vida é danada de curta. Até demais. Então, bora lá pular no escuro, ter um montão de casos. Com tudo e todos.

Ter espasmos repetidos com o vento nas ventas.
Encaixar nas curvas lânguidas das ondas.
Ir ao céu abraçando a lua pela cintura.
Encharcar de prazer nas páginas de um romance.
Arrepiar ao ouvir aquela música, navegar nas notas, uma a uma.
Estremecer ao perceber a florada na nudez do ipê.
Levitar num sorriso solto.
Entregar-se ao querer, ao desejo inevitável.
Satisfazer-se no pranto, de verdade.
Na volúpia da indignação, atracar-se com a coragem, viver o clímax na ação.
Deleitar-se no aconchego do colo alheio.
Dar sem a mínima pretensão de receber.

Gozar de uma insanidade desmedida, fluente.
Ritmar o enredo, sem pressa.
Acelerar no epílogo, acertar o momento.

Que nossos olhares sejam penetrantes,
nossas mentes defloradas,
nossos corações folgados.
E que a vida seja comida no pote,
                             às colheradas.

Galeria

Alma tua

Alma boa é a escancarada
Não tem tranca, nem tramela
Mania estranha pra entrar
Eu prefiro o teu olhar
Te encontro na janela

Alma boa é a espaçosa
Tem lugar pra todo mundo
Danada, alma festeira
Tem quem fica a vida inteira
Tem quem sai em um segundo

Alma boa é a alma pena
Só flutua, bem levinha
Como lastro o coração
É um voo de balão
Alma tua, alma minha.

Galeria

Meu caminho

Tô no meio do caminho.

Nada definido, como sempre. Não sei fazer de outro jeito.

Acertar o rumo dá trabalho. Jogo duro.

...

Carreiras e paragens

Acordei pro mundo no dorso de um cavalo

Finalzinho de novembro

Se bem me lembro

...

Meu lugar

Eu tenho o meu lugar

Pr´onde a vida puxa de volta

Onde o corpo se recicla

É lá onde a mente se solta

...

Propósito e vontade

Propósito é um negócio complicado.

Tem dias que some.

Vontade some junto.

Propósito e vontade.

Dois abismos, duas montanhas.

...

Bate e volta

Tem um cara sincero

Joga tudo na tua cara

Não deixa escapar nada

Analisa e responde

    em simetria perfeita

...

Analgésico

A dor me visitou

Não a dor conceitual

A dor física mesmo

Fulminante, escorchante

...

Ser, ter, sentir, viver

Ser, essencial

Ter, frugal

Sentir, fundamental

Viver, temporal

...

Mana

Mana forte, mana, sorte. Luta, mana.

Mana sente, mana gente. Muito gente. Luta, mana.

Mana alma, mana, calma. Luta, mana.

...

No ano que vem

Vou aquietar a alma, arrefecer a ira

Subjugar a insanidade, domesticar a angústia


Vou dourar o desgosto, maquiar o pranto

Engolir a mágoa, menosprezar a perda

...

Gol de nuca

Um na sobra e dez atrás

Grande área lotada

Cruza forte, com tudo

Bonito, feio, tanto faz

...

Vida pontuada

Vida reticência

Amanhã incerto

Tá tudo aberto

Tome tenência

...

Sem saída

Persistente, decerto

Otimista por teimosia

Mira o tudo de bom

Esbarra no frio real

No ácido dia-a-dia

...

Tudo de mau

Apetrechos sob medida

A adaga do rancor é cega

O veneno do desprezo é lento

...

Pormenor

Feito sussurro no grito
Sopro na ventania
Sombra no breu
Átimo no infinito

Todo querer tem um passo
Toda lágrima, um ai
Todo grão tem sua gota
Todo aperto, um abraço

É a fé no quase nada
A riqueza do detalhe
A energia da minúcia
O lapidar da estrada.

Galeria

Futuro

Esse danado
Chega,
    vira presente
E, de repente,
        passado.

Galeria

(In) Definição

Amor não tem calma. Insistente. Impertinente. Resiliente.
Amor ocupa espaço. Folgado. Expande o nada. Onipresente.
          

Amor não tem som. Aquieta. Silencia. Cala.
Amor tem cheiro. Impregna. Inebria. Exala.
          

Amor não tem forma. Se acomoda. Se encaixa.
Amor não tem lugar. Se perde. Se acha.
          

Amor é equação. Sem incógnita. Sem solução.
Amor se conjuga. Com pessoa. Com oração.
          

Amor não é igual. Vem suave. Ou queima.
Amor faz todo sentido. Pra quem persiste, .
           pra quem teima
          

Galeria

Pra você

a persistência da sombra

a energia da verdade

a riqueza do silêncio

a sapiência das horas

a leveza da aura

o perfume da alma

...

Aniversário

Viu ...

Não precisa contar o tempo

Conta as vezes em que riu sem motivo

...

Tive

Tive teu verbo na mente
     Teu corpo na boca
     Teu cheiro no couro
     Tua essência na alma
E o teu cio de louca

Tive teu choro no colo
     Tua ira no peito
     Teu dengo no pelo
     Teu quero de novo
E o teu fogo perfeito

Tive tua calma insana
     Teu rugido mudo
     Teu sigilo na dor
     Teu nunca pra sempre
E o teu remorso agudo.

Galeria

Amor e força

O primeiro carinho, o primeiro passo
A primeira palavra, o primeiro tudo
Conquistando o pequeno então
Carimbo no coração

Em tudo que olhamos, vemos
Iluminam tempo e espaço
Se multiplicam do nada
Onipresença abençoada

Dominam sem se impor
Convencem sem explicar
Curam sem causar dor
Adoram sem estragar

Tomam de assalto o peito
Nos fazem sentir perfeitos
Somos reféns, não tem jeito
Nem sei explicar direito

Sem elas não respiramos
Dependemos delas direto
Sem elas não nos achamos
Não dá para ser completo.

Galeria

Mar, confidente

Vive o teu dia

Aproveita o momento

Descansa, tranquila

Assim, sem pressa

...

Um dia céu, outro dia chão

Um dia o acaso

A reboque a surpresa

Coladinha a euforia

Puxando o desejo

E no encontro a certeza

...

Só pra mim

Tenho ciúmes. Não consigo controlar.

Tenho ciúmes até de teu sonhar.

Ciúmes de quem pode te abraçar.

De quem pode te cheirar.

Do beijo, nem vou comentar.

...

Às vezes passa batido

Pé na areia

Admirar de longe, decifrar cada movimento

Um vinho só pra brindar à vida

Beijinho na correria

...

Tempo de viver

Queriam saber por que nem sempre o compasso do viver acompanha o bem querer. Saber por que o coração é desatento, teima em não se entender.

Tudo no seu cantinho, dentro do mesmo ninho, confiando no pra sempre, sempre do mesmo jeito. Mas tem algo no caminho, se aproxima de mansinho, afastando o pra sempre, o que ora foi perfeito.

...

Tu, lugar único

Quando dei por mim, já tava dentro de ti

Lugar nada comum

Forrado de abismo e desejo

Estradas e entranhas latentes

...

Amor e ninho

Se conversar com o mar e olhar pro céu não confortasse

Se as músicas não habitassem a memória

Se a dor de lá doesse aqui, mas a dor daqui lá não chegasse

Se versos e textos não desenhassem a história

...

Fecha os olhos, respira fundo

Passaram um bom tempo juntos em outra dimensão


Quando sentem saudade,

    voltam pra ela

É lá que o amor em movimento se encontra

Duas dimensões, duas almas

Se esbarrando pra formar uma terceira,

    só deles.

...

Ressuscita

Se o abraço falta, aconchega

Se o carinho não tem, sorri

Se o perfume não sente, suspira

Se a distância separa, sonha

...

Ben(Dito) amor

Amar é humano, persistir no amor é sabedoria.

Mas quando um não quer, dois não amam.

Onde há amor, há fogo. Há chama.

Quem não chora, não ama?

...

Tu, lugar único

Quando dei por mim, já tava dentro de ti

Lugar nada comum

Forrado de abismo e desejo

Estradas e entranhas latentes

...

Se ...

Se fosse pra ser perfeito, teria feito e refeito, teria tomado jeito, preparado bem o peito


Se fosse pra dar errado, nem teria começado, de cara teria travado, não teria nem tentado

...

Angústia

Tô estourando. Tenho que desabafar.

Tô querendo. Tenho que relaxar.

Tô sofrendo. Tenho que anestesiar.

...

Abraço

O abraço é o tato esparramado, espraiado,

    aplicado em sua plenitude.

Galeria

O gosto dos lábios

Se o abraço espraia o tato
Que posso dizer do beijo?
No beijo não se diz nada
Se sente o tudo, num ato

É goiabada e queijo
Um sabor que não se acaba
É o salgado no doce
Como decifrar o beijo?

Com a visão desligada
Os cílios mais que colados
Essência na sensação
Úmida, e adensada

Lábios tremem, desunidos
Diálogo íntimo e mudo
Porta de entrada pra deusa
Musa de todos sentidos

Anatomia genial
Partículas aguçadas
Impetuosa e suave
Ritmo quase letal

Se completa no seu par
Sonham em ser uma só
Pertencer a outra boca
Querem trocar de lugar

Para esculpir o desejo
Afogar outros sentidos
Inundar mentes de gosto
O que mais dizer do beijo?

Galeria

Empatia labial

Sorriso que traz doçura

Brota a menina escondida

Um quê de vergonha boba

Sapeca, inocente, pura

...

Sentigo

Não faz muito tempo sonhei
Tateei a estrada do acaso
Cheguei e não me entendi
Só sei que senti, mas sem ti

Te procurei no passado
Te encontrei na retina
Nos olhos de outro ser
Visão assim desatina

Achei o que não queria
Se queria, não sabia
E dentro de mim cabia
Caminho novo, outra via

Tinha teu jeito de antes
Me vi desse jeito também
Era tudo igual, era a gente
Mas tudo de trás pra frente

Caminhei na anestesia
Pra dor que já corroía
Curativo d’alma por certo
Bem querer juntinho, bem perto

Momentos perfeitos, leves
Lindos e fortes, mas breves
Vida com vida, quem diria
Lampejos de euforia

Vasculhei o presente então
E te encontrei aqui dentro
Estavas aqui todo tempo
És meu lastro, o meu chão

Pra gente ficar na terra
Me abraça, espreme, aperta
Cola ni mim, vem comigo
Não quero seguir sentigo.

Galeria

Abraço e colo

Quero matar o se, ressuscitar o quando

Desbotar o choro, desenhar o encanto


Pintura, teu cabelo sobre teu pescoço

Mundo apagado, razão opaca, no escuro

...

Sonho

Planava, suave

Alma sem lastro

Bastava um olhar,

    mudava a direção

Veloz, teletransportado

Num simples pensar,

    criava um país

...

Cinco atos, cinco sentidos

Sorvo de tu´alma doce cheiro
Cura eficaz pro débil peito
Refúgio pleno, um sentir inteiro
Senso deserto, palpitar perfeito
Divina dama, ermo cavalheiro
Sono profundo em eterno leito
Evanesço, flutua longe a mente
Emudeço, sumo, pensamento ausente

Mal enxergo tua nítida miragem
Leio confuso teu obtuso sinal
Não decifro complicada camuflagem
És mera cópia ou o original?
Desenho embaçado, fosca imagem
Como elucidar complexo vitral?
Desisto enfim, tonto, inebriado
Esqueço a razão, sigo fascinado

Ouço absorto tua ode de sereia
Arrebentas a calmaria de meu mundo
Ressoas lasciva onda, o ar permeia
Ritmo sublime, meu prazer rotundo
Limpa, viva voz, ampla e cheia
Alcance agudo, tentador, profundo
Ópera singela, ouvidos encanta
Hipnose pura, ansiedade espanta

Te abraço, obra prima, com vontade
Peito colado no peito, exíguo espaço
Envolvo tua forma esguia sem piedade
Pescoço e queixo, não me queixo, faço
Mãos como sondas, tateiam sua metade
Vítima impotente, um refém do abraço
Envolta em mim, és tão inteira, plena
Fórum restrito, arena, palco, cena

Degusto faminto teu querer intenso
Sensação tão salgada quanto doce
Gustação do além, não me pertenço
Paladar de ti que o paraíso trouxe
Manjar etéreo, aí temos consenso
Nunca sonhei que tão gostoso fosse
Lambuzados, nos lábios suor e mel
Extasiados, ceia na boca do céu

Galeria

Lacre aparente

Às vezes te enxergo

    no silêncio

Quando emudeces,

    transpareces muito mais

...

Curativo

Bom é ter lembranças boas

Conforto pr´alma ferida

Emplastros de bem querer

Pras dores agudas do ser

Pras emergências da vida

...

Musa onírica

Minha musa eu vivo em sonho
Intelecto, força e calma
Me desarma com o olhar
Não sei quando vai voltar
Mas deixa brilhando a alma

Efêmero compromisso
Um encontro, um beijo a mais
É como um rabisco na areia
Onda apaga volta e meia
Persistente, o sonho traz

Segredo não cabe no sonho
Ambiguidade grau zero
Translúcida intimidade
Franqueza, afeto, verdade
Um jogo aberto, sincero

Quem sabe num despertar
Se quebra essa fantasia
Se encerra esse vai e vem
Ou repousamos no além,
       perpetuando a utopia.

Galeria

Conjugação perfeita

Conjugando o verbo saber nas três pessoas mais importantes:

            eu sei, tu sabes, nós sabemos.

Parto da amizade

O cuidado no contato

A confiança no olhar

Conquistas e mágoas de antes

Somem naquele instante

...

Esse cara, o amigo

A amizade se basta. Se define por si.

Não precisa ter serventia,

    nem sentido prático.

Basta existir.

É, e acabou.

...

Puro reflexo

Como é bom quando uma alegria pousa por aqui

Pra limpar a aura daqui, vem o sorriso de alguém

Alma leve lá, a de cá também flutua,

        coisa pura.

Galeria

À prova de desalento

Tenho um pensar recorrente

Certos exemplos de vida

Têm outra vida embutida

Têm um quê raro, puro

São fruto macio, maduro

Socorrem direto a gente

...

Beleza renitente

Onda teimosa e bonita
O mar não te quer mais
Chega de leva e traz
Te valoriza, acredita

Tua devoção não lhe encanta
Tornas faceira, ele empurra
Então berra, esperneia, urra
Não faz como outras tantas

Por que a insistência afinal?
Quando voltas, viras mistura
Desperdício de formosura
Tens muito de especial

Abraça a areia, te ajeita
Vai que a lua te acolhe?
Com outros olhos te olhe?
Ou flui rio adentro e te deita

Sobe a montanha, evanesce
Também te quer muito a serra
Mas é alta e fria essa terra
Congelas se não te aquecem

Segue tua luta singela
Carona em maré e vento
Te imploro nesse momento,
    por mais que ele não te aceite,
    que tua paixão rejeite,
nunca deixes de ser bela.

Galeria

Adão e lua

Colisão quase fatal

Costela arrancada

Lua concebida

...

Florada em novembro

Perdi a florada do ipê

Desejei agosto
Vigiei setembro
Desisti outubro
Veio em novembro

Botões secos,
    eclosão tardia
Depois do meu desapego
Vai ver foi isso
Só queriam respirar,
    e eu não sabia.

Galeria

Por que não?

Impossível na mente, viável no coração, concreto na ação


Desafiar a razão pode ser o melhor caminho

Pensar o inédito faz a diferença

Como se sabe, no impossível a concorrência é bem menor

...

sABer

Deseja o SER pleno, então?

Quem sabe forjando o SabER?

Mas entre o sABer e o ser

Tem que comer muito chão

...

Manifesto civil

Pois então. Estado absoluto.


Povo catatônico, incrédulo e exausto

Como sempre, cinco meses pra sua ganância e vaidade

Vou capitular e aceitar. O governo é um peso

Eles com seus desmandos, de mim têm o desprezo

Continuarei muito aquém da sua realidade

...

Ela, Maria

Ah, os olhares de Maria

Na retina, a paixão

Morada do aconchego

O lado bom do apego

Luz que cega a razão

...

Força maior

Se teus ombros fadigam

Os teus braços encurtam

Tuas pernas dobram

Tuas mãos não alcançam

...

Tu, vento. Eu, porta.

Forte o vento, charme passageiro
Distraída a porta, entreaberta
Submissa, vai e vem, a porta flerta
Faz a festa o vento, livre e inteiro

Energia, liberdade, esse é o vento
Sopra e agita, segue, não se importa
Limitada e encantada, assim, a porta
Deslumbrada com tanto movimento

Vento estraçalha e vai embora
Porta absorve e aqui jaz
Ela no seu eixo, mais e mais
Ele solto, continua sem demora

Bate vento, bate porta,
               bate vida, bate e volta.

Galeria

Coisas de mãe

Arquiteta de valores

Costureira de asas

Coração all inclusive

Carinho inebriante

...

Quando o filho vira pai

Essa não é uma história inédita. Mas nem todos tiveram o privilégio de tê-la vivido.

Comigo demorou, mas aconteceu.

Meu pai foi criado em uma época em que demonstrar afeto e carinho era muito raro. Poucas famílias alimentavam o amor com atitudes no seu dia-a-dia. Foi assim que viveu e em nossa família não era muito diferente. Um pai responsável e mais distante, uma mãe acolhedora sempre fazendo o meio-de-campo.

Cresci e aos poucos fui entendendo essa dinâmica. Passei naturalmente pelas fases de autoafirmação, rejeição aos valores dos pais e outras dores do amadurecimento, como qualquer filho.

De longe ele observou meus passos. Mas não de tão longe assim. Sempre que precisava, bastava um olhar, um telefonema com tom de voz um pouco diferente. Sempre vinha em seguida um apoio, uma palavra. É intrigante como sempre me considerei um filho. Os problemas de meus pais passavam ao largo. Absorto em meus problemas, eu tinha minha própria família pra olhar. Tive oportunidades de ajudá-los, mas foram raras.

Acabei seguindo caminhos profissionais similares aos de meu pai. E foi aí que comecei a entender seus desafios. A insegurança de um negócio, a dedicação de 100% à empresa penalizando o relacionamento em casa. Enfim, comecei a me colocar em seu lugar, a ver a vida sob sua ótica. E sinto que ele também percebeu que minhas batalhas eram muito parecidas com as suas.

Ajudou-me e aconselhou nos negócios, sempre ao seu jeito. Uma pergunta, um olhar. Eu nunca coloquei barreiras para viabilizar estes contatos. Adorava quando aconteciam.

Aposentou-se cedo, vieram os netos. Naturalmente foi amolecendo, mas manteve a altivez de sempre. Veio a festa de Bodas de Ouro. Vieram os problemas de saúde da mãe. Ele aguentou firme. Quando a mãe se recuperou, parece que viu que sua missão estava se encerrando.

Dois anos depois, teve um AVC e o levamos ao hospital. Enquanto estava sendo examinado teve outro, bem mais forte. Foi feita uma trombólise e ele se recuperou totalmente.

Foi aí que tive uma experiência ímpar. Agradeço a Deus por ter tido essa chance.

No hospital havia uma ala de tratamento semi-intensivo, onde os familiares se acostumam à nova rotina do ente enfermo. Dei banho, ajudei na higiene pessoal, apoiei seus passos, dei remédios, alimentei, fiz companhia, conversei. E o mais importante, percebi que sua sabedoria ia além. Ele foi se moldando à situação, foi entendendo que os papéis deveriam se inverter.

Agora eu era o pai e ele, o filho. Nenhuma rejeição, nada. Conversávamos naturalmente, mas os dois tinham consciência de que aqueles momentos seriam especiais. Parece que ele sabia que não podíamos desperdiçar essa dádiva. Que era o nosso momento.

Como sempre, nunca falamos abertamente a respeito. Não precisava. Nunca precisou, nem com os papéis normais de pai e filho. Não seria naqueles momentos que iríamos quebrar o encanto. Sim, encanto, porque apesar da aparente distância, sempre estivemos muito perto um do outro.

O pai foi pra casa e alguns meses depois foi acometido de outro AVC, esse mais agressivo. Passou quinze dias na UTI e foi convocado pra jogar no time lá de cima. Com certeza, como centroavante. Aquele que realiza. Aquele que faz. Como fez durante a vida inteira.

Há pessoas que se arrependem de não terem externado seu amor. De não terem dito "eu te amo". Atitudes dizem mais. Eu consegui demonstrar o amor por meu pai durante toda a vida, do nosso jeito. E no final de sua caminhada, junto com ele, cuidando dele como se de mim tivesse saído. Ele correspondeu ao meu amor como um filho, acolhendo meu cuidado da mesma maneira, com todo o amor do mundo.

Galeria

Lição de casa

Sempre entre as primeiras da sala, aplicada, responsável.
Naquele dia, algo não saiu como de costume.
Sua alma sentiu fundo, uma sensação de angústia, dúvida.
Foi uma prova como outras tantas. Mas dessa vez não conseguiu pôr no papel o resultado natural de sua dedicação. Um conteúdo diferente a desconcentrou.

Foi mal, muito mal. Decepção, sim.
Mas não esperava que a professora a colocasse ainda mais pra baixo. Deu a nota de todos e a deixou por último. Uma nota indizível. Pra ela, uma vergonha, no mais completo sentido da palavra. Sentiu-se a última das meninas da terra.

Como sempre, a mãe a aguardava no portão de casa. De longe sentiu. Sua filha não estava com o viço de sempre no olhar. O que teria acontecido? Segurou o aperto no peito, preparou seu coração enorme de mãe e acolheu sua flor, hoje meio murchinha.

Essa mãe trazia consigo uma força incrível, brotada de uma vida cheia de desafios, desde criança sem seus guias, seus pais. Mãe desde pequena assumiu com fibra e amor a criação do irmão. Agora, vendo sua cria daquele jeito, era hora de colocar em ação essa força, esse amor precoce de mãe.

Ao chegar em casa, aquela menina cabisbaixa não precisou dizer muita coisa. Assim que entrou, um sorriso enorme a envolveu e mudou completamente o foco. Nota baixa? Ora! Isso era coisa pra deixar sua filha daquele jeito? Vamos é passear! Essa tristeza tem que ir já, já, pro espaço. Assim fizeram, foram passear no centro, comer pastel com guaraná, olhar o céu, conversar.

Voltaram pra casa. Aquela mãe, como sempre, se superou. Encontrou em casa os alfarrábios do avô, mas matemática não era sua praia. Aprendeu com dificuldade o conteúdo e ensinou à filha, a menina que há poucas horas tinha trazido o mundo debruçado em seus ombrinhos.

Foram dormir. As duas com sua conexão revigorada. As duas sentindo suas almas ligadas. Um elo mãe-filha, indestrutível. Naquela noite, em seus sonhos, por certo se encontraram.

Cedinho, café tomado, caminhada pra escola. Segura de si, passos firmes, entrou na sala e sentou em sua carteira escolar. Aquelas de madeira, lado a lado com sua coleguinha. A professora então, de surpresa, a fez ir ao quadro resolver o mesmo problema da prova. Resolver e explicar. Todos a observando, como súditos aguardando o sacrifício de um fiel ante uma arena romana.

A menina, ontem insegura, teve sua aura iluminada. Resolveu, demonstrou, explicou, arrasou! Professora incrédula. Classe, metade desapontada, metade vingada. Mini heroína casual, voltou ao seu lugar flutuando.

Aqueles dois dias grudaram em sua mente. Lembrou-se de como seu coração ficou pequeno. De como sua mãe o inflou de novo. De como a fez enxergar as coisas que realmente importam. Um resgate de mãe.

E foi assim que essa menina descobriu o real significado do termo "lição de casa".

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Da fadiga à resiliência

Fadiga: "processo pelo qual os materiais perdem suas características iniciais devido a esforços repetitivos" Resiliência: "a capacidade de um material voltar ao seu estado normal depois de ter sofrido tensão"

A princípio, um material após entrar em processo de fadiga não pode voltar a ser resiliente.

A não ser que seja o material humano. Este sim, pode passar por vários processos de fadiga e voltar à sua forma original, recuperando então sua resiliência.

Com maior ou menor dificuldade, percebemos que pessoas têm a capacidade de sempre recomeçar. Ultrapassam as fadigas, as derrotas e se transformam, se reinventam.

A gente também sofre tensão, também é submetido a esforços repetitivos, aos mesmos problemas quase que diariamente.

Temos, porém, o poder de compensar a fadiga do dia-a-dia reconhecendo nossas pequenas vitórias. Dando ênfase ao que de bom acontece e atribuindo valor ao que temos e que nem percebemos.

Esse é o enfoque que devemos dar à vida. Gosto muito de uma fábula a respeito do caçador perseguido por um urso na floresta. De repente, já bem cansado, ele vê um morango irresistível bem em cima de um barranco. Ele terá que parar pra subir o barranco e arriscar ser devorado pelo urso. Resolve então parar, subir , comer o delicioso morango e só depois avaliar o que fará em relação ao urso.

Sempre haverá ursos, mas se volta e meia não pararmos pra saborearmos os morangos, tudo que enxergaremos serão os ursos. Os morangos, coitados, ficarão lá sem serventia, à espera de que possam ser o combustível pra recuperar uma fadiga passageira.

Tão importante quanto comer morangos é ter consciência de que existem ursos. E que temos que enfrentá-los. Viver sob a ilusão de que não existem pode nos levar a uma jornada de poucas realizações pela incapacidade de aplicar nossas defesas.

Admiro os que transformam ursos em morangos. É um dom raro. O trabalho, por exemplo, pode ser considerado um urso que enfrentamos todos os dias. E se não for? Imagine que maravilha. Só morangos, só morangos. Prazer e trabalho lado a lado, sem diferenças. Ainda chego lá.

Coma morangos de vez em quando, mesmo com um urso na sua cola. Isso fará a diferença entre colapsar pela fadiga e se tornar cada vez mais resiliente aos ataques dos ursos.

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Dimensões

Tempo e espaço embaralhados. Vidas assíncronas, cruzadas. Que bom seria.

Ah, como queria viver em dimensões diferentes, degustando sensações, pessoas, lugares, sentimentos. Aventuras, amizades, batalhas, conquistas, decepções, encontros, tudo ao mesmo tempo. Multiplicar experiências.

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Vida, cristal fino

A gente passa a vida lutando, conquistando, crescendo, pensando sempre no que virá. Mal dá tempo pra olhar pro lado, analisar, conviver.

Admiramos, amamos, odiamos, ensinamos, erramos. Erramos muito. Caímos, trincamos, rachamos, colamos.

À nossa volta outros cristais. Frágeis como nós ...

Queria ser John Coffey

Quando alguém que amamos sente dor, física ou não, é como se acontecesse conosco. Talvez até seja pior, pois queremos saber como ela se sente a cada minuto. Imaginamos que seja frágil por mais forte que seja ...

Cansaço

Neste mundo "pra ontem" nos é permitido sentir cansaço?

Não ter vontade de realizar? Isso não é sinal de fraqueza?

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A caçula da casa

Renata foi visitar a tia Isabel e voltou trazendo a notícia. Uma criaturinha minúscula iria fazer parte de nossas vidas. Sorriso de orelha a orelha com a expectativa do piolho que estava por vir, a irmãzinha mais nova. Sábia tia Isabel, um bichinho desses só faz bem. Mistura de poodle com maltês.

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Lugar gente

Às vezes vejo pessoas como lugares.

Dá vontade de explorar, ficar nelas, contemplar seu nascer e pôr do sol.

Tem aquelas mais acessíveis, com estrada pavimentada, com fluxo intenso ...

Anamnese cardiaca

Acordou com uma dor esquisita. Começava na boca do estômago, era um vazio. Subia pelo abdômen, retirando o espaço, fazendo vácuo.

Chegava ao peito, ali no lado sinistro, bem ali. Lugarzinho safado pra doer ...

Foi então consultar um especialista. Pessoa vivida, calejada, com experiência no tratamento dos males do corpo e da alma.

Começou com um papo furado, falando do tempo, se iria chover, se faria sol. Logo depois vieram as perguntas matadoras. Se ele havia conhecido alguém, se admirava essa pessoa, se a achava inteligente, se essa criatura lhe fazia rir, assim do nada, só de pensar nela.

Suas respostas foram todas positivas, sim, sim, sim, sim ...

Continuou então com mais perguntas: você consegue ficar sem ter notícias dessa pessoa por mais de um dia, uma hora, um minuto sequer? Consegue vê-la sofrer sem sofrer também? Consegue imaginar o mundo sem ela? Consegue fazer algo sem pensar nela?

Aí vieram os "nãos". Resposta negativa pra todas elas, sem exceção.

Depois de muito anotar, de consultar suas referências, de pensar muito, o especialista veio com o diagnóstico.

Você está somatizando dores de outra vida. Está completamente contaminado por outro ser.

Mas aí ele o matou, fazendo a última pergunta. Esta foi realmente vencedora: essa pessoa tem a mínima noção do “mal” que está lhe causando?

Ficou calado. O especialista ficou sem resposta e ele sem tratamento.

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Física e química

Quando dois determinados seres, reator e reagente, ocupam o mesmo tempo e espaço, não dá pra impedir que tal fenômeno físico provoque a mais intensa das reações químicas ...

Des(encontros)

Vivem assim, meio que se esbarrando, mas sem a mínima noção disso. Simplesmente vivem, cada um sua vida. Vidas com problemas, alegrias, decepções, realizações, tristezas, euforia. Enfim, vidas muito bem vividas.

Sentem recorrentemente a presença de algo ...

A bela e o mané

Uma olhada de rabo de olho.
Um desvio de olhar cruzando de leve com o outro. Um sorriso tímido.
Uma frase na última página do caderno. Uma abordagem desastrosa.
Uma risadinha como resposta. Alívio imediato. Coragem pra um convite. Sorvete.
Mas no inverno? Agora já foi.
Aceitou!
É longe. Vou de bicicleta?
E ela? Será que a mãe leva?
Ah, sei lá.

Bom, tenho que pensar no script.
Não sei nada dela. Do que será que ela gosta?
Só sei falar de basquete, futebol e futebol de botão. Papo de guri.
Já sei. Livros. Putz, não dá. Eu só li os do colégio.
Ela deve ser culta. Tem uma carinha de inteligente.
Tira notas boas. Eu até que mando bem, mas falar do colégio não dá.
Pra que praia será que ela vai? Podia falar disso. Adoro praia.
Mas nem onda pego. Será que gosta de pescar?
Risca tudo. Vai falar de isca viva com a menina? Tá maluco?
Filme então. Pode ser uma boa. Só tem dois cinemas na cidade.
Todo mundo vê os mesmos. Acho que dá liga. Vou de filme.
Dá pra falar de música também. Beatles? Stones?
Dependendo, já vai dar pra sacar sua personalidade só com essa escolha.

E a grana? Será que vou ter que pagar?
Dá-lhe pedir pro pai. Tá na cara que vai perguntar pra quê.
É bem provável que vai me dar só um pouquinho e ainda vai tirar sarro.
Do mesmo jeito que me zoou quando essas penugens começaram a aparecer na minha cara.
Melhor pedir pra mãe. Ou pros dois, pra garantir.

Que trabalhão. Será que ela tá que nem eu?
Vai ver é mais tranquila. As meninas são mais espertas que nós.
Minha mãe disse que amadurecem mais rápido.
Deve tirar de letra essa tremedeira que já tô sentindo.
Nem vou pensar em beijo, esse tipo de coisa.
Se já tô desse jeito só com os preparativos, imagine o resto.
Se tiver coragem de pegar na mão, já vou estar no céu.

Mas ela aceitou. O que será que viu em mim? Será que já tava me observando faz tempo?
Eu tava. O jeitinho de carregar o material. De como fala com as amigas.
E como elas gostam dela. A letra no quadro. Ah, quando ela vai pro quadro o tempo para.
Com certeza já viu minha cara de bobo.
Segura, sempre responde as perguntas com clareza. Eu volta e meia me embanano.
A letra dela é um desenho. A minha, tadinha, só com muito esforço pra entender.
Acho que uma vez a vi me olhando quando jogava basquete. Acho que foi isso.
Só pode, porque de resto eu me considero um mané. De carteirinha.

O que tá feito, tá feito. Ou vai, ou racha.
Putz, não tenho roupa pra ir ...

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Intensidade

Sentimentos conflitantes, inesperados. Dúvida. Empolgação. Tudo junto. Bem querer e aflição se engalfinhando. Bendita confusão.

Nada mais devastador que a dor que vem de dentro. Aquela que rompe e explode. Aquela que sempre esteve lá. À espera de um motivo pra desencadear sua força.

...

Câmara secreta

Pois é. Dizem que o amor é um vírus. Então o jeito é isolar esse danado.

Ele teima em contaminar seus momentos, suas planos, suas convicções, seu mundo tão certinho.

Que tal usar uma das câmaras de seu próprio coração pra separar o bichinho? Entre átrios e ventrículos, escolha um e o sacrifique. É por uma boa causa. Feche com cuidado, hermeticamente, e tranque esse amor teimoso lá dentro.

Vai espernear, chiar, mas não o deixe sair. Castigo bem dado. Não tem se comportado direito. Deu mole, tá lá ele de novo dando o ar da graça. Uma lua, um mar, uma flor, um lugar, uma música, um cheiro, quase tudo é motivo. Não dá mais.

É pra aprender. Tudo tem seu tempo, seu momento. Esse amor não sabe disso. É o único jeito de domar o engraçadinho.

Pensando bem, tê-lo bem perto também é perigoso pra gente. Se bem que se o deixarmos longe, nós é que vamos sentir saudades. É bom saber que ele tá dentro do peito, mas quietinho, sob controle. É um risco gostoso de correr.

Veja bem, treine seu coração direitinho. A maioria deles ignora solenemente o termo firmeza. Com certeza o seu vai facilitar. Pelo menos, enquanto isso não acontece, se tem um pouco de sossego. Se esse amor sair daquele cantinho especial, vai se espalhar de novo. E a bagunça vai voltar. Quem sabe nesse dia sua motivação não reapareça? Aí vai se aquietar. Não porque tá preso, mas porque reencontrou seu par pra se completar.

Até que a vida o sufoque outra vez.

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A faísca e o fogo

Dois corpos podem entrar em combustão espontânea? Depende. Qual a temperatura? Estão pertinho um do outro, o suficiente para gerar atrito e faísca? Ah, o mais importante, os dois estão a fim?

Esses dias, me contaram, só havia um dos corpos querendo. Não queria saber de outra coisa. E não havia santo que o fizesse desistir. Mas como queimar sozinho? Sem a companhia calorosa do outro?

Acontece que quando dois corpos feitos um pro outro se encontram, a vontade sempre está ali. Maior ou menor, a danadinha faz parte de sua natureza. Esses dois corpos já haviam pegado fogo antes e já sabiam o que acontecia quando se incendiavam.

Além da vontade de um, agora veio a memória do outro. Aquela sensação de que só um corpo conhece, de queimar junto ao outro, de explorar e conhecer os lugares preferidos, onde a brasa espera a brisa. A lembrança do fogo hipnotiza, cega. Ou melhor, arregala e faz salivar. O outro corpo também passou a querer. Muito.

Não deu outra: dois corpos prontos, cheios de vontade, pré-aquecidos entraram em combustão. Foi só esbarrar de leve, só olhar, só imaginar, foi só querer. E fez-se o fogo.

Quando dois querem, dois ardem.

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Me ajuda

Parece que veio de supetão. Mas já sabia. De certo modo, tudo já tava preparado pra emoção.

Só que não tem como preparar o coração. Preparo tem a ver com planejar, usar a razão. É claro que o coração não entende nada disso. Não quer nem saber, ignora solenemente ...

Amor arquiteto

"Viver é melhor do que sonhar" ... Viver a realidade maravilhosa vinda do sonho é lindo ...

Tinham o essencial, o amor. Mas também carregavam suas dúvidas de que esse camarada conseguiria dar conta de tudo sozinho ...

Gravidade d´alma

De tempos em tempos almas especiais se encontram.

Em meio a infinitos atores que passeiam pelo universo, um determinado corpo celeste por pouco não esbarra num planeta distraído repleto de uma matéria singular, mais conhecida por mar. E passa tão perto que seu poder magnético faz com que essa rara substância quase flutue.

Duas almas deliciosamente se atraem. Uma candidata a lua, e a outra um mar sem maré, preso ao planeta, sem vida, estático. Só que naquele momento não permanece incólume, ele dá uma balançada. O mar se transforma, se agita. Um evento único estampado na mente.

Então, sempre que um outro indivíduo cósmico ameaça se aproximar ou até mesmo uma estrela cadente dá o ar da graça, o mar lembra daquela pretensa lua que um dia o fez vibrar. Qualquer indício de movimento é suficiente pra voltar a sonhar. Quer se agitar novamente, quer criar ciclos de afeto, de emoção. Mas ainda não há como saber quando se aproximarão novamente. Foi só uma visita ocasional.

O mar acredita piamente ser possível tomar um impulso gigante e, sim, partir com aquela criatura. Como se pudesse pegar carona e viajar, provocando uma sensação de desprendimento inebriante.

Ansiosamente espera pela reaproximação da surpresa boa que o fez sair da inércia. Sem querer, o planeta acabará por ajudar seu mar atraindo o ser vagante pra perto, iniciando uma história de encontros marcados. Mal sabe que pode assim transformá-lo em satélite e abalar o equilíbrio de seu ambiente. O alívio esperado pelo mar.

Por sua vez, a viajante errante chegará mais perto. Passará mais devagar, abrindo mão de suas jornadas pra agendar encontros periódicos com aquele mar, a sua mais bela escolha. Fará visitas cada vez mais frequentes até que se transforme em lua e o mar, finalmente, viva suas marés tão desejadas.

Ambos sabem que o contato imaginado não tem chance de ser vivido, mesmo assim existirão daqui pra frente na expectativa do próximo quase encontro. Aguardarão impacientes o instante repetido em que uma alma levita em direção à outra que passa bem pertinho, resgatando o sentimento mútuo de conforto e pertencimento.

Seguirão loucos pra renovar suas energias com um sopro de vida, um sopro de paixão que os impulsiona, que os completa.

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Premeditando a felicidade

Um atleta de alto nível simula em sua mente os momentos decisivos da disputa. Pensa e repensa o que vai fazer em cada momento, chega a sonhar com isso. Cada passo é planejado, imaginado. Pode antever, inclusive, os movimentos do adversário.

Dá pra fazer a mesma coisa com a felicidade? ...

Anamnese do querer

Uma viagem, uma onda, um basquetinho, uma gargalhada gostosa, uma viola, um chocolate, uma lua, um vinho, um beijo. A dúvida também pousa nas coisas boas da vida. E em boa parte das vezes a gente ajuda, pensando e repensando, remoendo, mastigando e não saindo do lugar.

Vamos lá ... Senão, vejamos: quando acontece vale a pena? Deixa um gosto bom? Alivia a vida? Tem que durar, ser perfeito? É forte? Você ri à toa quando lembra? Faz sentido reviver? Tá fazendo falta? Não sai da cabeça? Tem saudade? Saudade boa?

Um montão de perguntas. Mas não precisa responder tudo, as principais você sabe muito bem quais são. Então responda e vá em frente, enfrente.

Descomplique.

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Sinalizador dançarino

Não faz muito tempo, enquanto passava por obras na estrada, observei um operário sinalizando um desvio. Olhei novamente e percebi que ele estava dançando enquanto balançava a bandeira de sinalização!

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Sobre jardins e borboletas

"Com o tempo, você vai percebendo que, para ser feliz com outra pessoa você precisa, em primeiro lugar, não precisar dela ... O segredo é não correr atrás das borboletas ... é cuidar do jardim para que elas venham até você. No final das contas, você vai achar não quem estava procurando ... mas quem estava procurando você!"

Esse texto foi divulgado na web. Mas me arrisquei e elaborei um pouco do que penso a respeito dessa linda comparação jardim-coração.

Não desvirtue a vocação de seu jardim. O sol bate daquele jeitinho, a terra tem seu PH específico ...

Raspas e restos? Ou essência?

Você tem sentido falta do que efetivamente precisa? Bate-lhe aquela ausência quando mais necessita?

E será que, quando consegue, realmente aproveita, valoriza com paixão o que lhe é oferecido? Ou simplesmente se concentra no fato de que logo vai acabar?

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Fazer o bem, só isso

A vida é um espelho? A corrente do bem dá voltas? Sempre existe a compensação, a recompensa?

É muito pouco provável que a conta-corrente do comportamento humano zere ...

Brasil maltrapilho

Cena da manifestação em Curitiba (01/11/14). Bandeira surrada, vestida com orgulho, com dignidade, altivez. Por mais surrado que o Brasil esteja, por mais cansados que estejamos, temos o dever de continuar acreditando.

A peteca às vezes cai, reconheço. A vontade nem sempre é a mesma. O cansaço bate de frente. Mas não ao mesmo tempo com todo mundo. É importante compartilhar, participar, incentivar, mesmo que não estejamos em condições de atuar diretamente. O seu alto astral pode levantar alguém em um momento difícil e vice-versa.

Se você está desiludido, descrente no sistema, saiba que não é o único. Isto acontece com a maioria. O dia-a-dia, a rotina, as obrigações, tudo contribui para isso. Produzir, ter atitudes corretas, com certeza é mais difícil que dar aquele jeitinho. O atalho é mais fácil, mas o resultado é precário, artificial, efêmero.

Meu conselho é começar devagar, mas conscientemente. Sem pressão, sem ter que assumir mais compromissos. Simplesmente comece. Pode ter certeza de que você vai fazer a diferença.

Vamos ajudar a reformar nossa bandeira através do exercício da cidadania. Na fila do banco, no trânsito, na escola, em casa, no supermercado. Não feche os olhos para os pequenos atos de injustiça, envolva-se. O que, às vezes, pode parecer óbvio para você, nem sempre o é para boa parte da população. Por muitos anos temos queimado nossas referências, invertido valores. Pense que você pode ter sido privilegiado e ter tido uma formação adequada. E a arma principal é o exemplo. Faça questão de, didaticamente, fazer o bem e estimular o mesmo gesto. Não precisa ser chato para agir assim. Seja sereno e justo. Mas quando não for possível, seja apenas justo.

Eu não havia percebido, mas a imagem também traz um pai e uma filha vestidos de branco. Imagine o que essa menina não aprendeu nesse dia? Paz na roupa e atitude na vida, com o pai ao lado.

Alguns de vocês já devem ter escutado seus filhos falando: "Olha a (o) mãe (pai) de novo, lá vem mico". Mas não desistam. Eles observam e absorvem tudo, são um híbrido de coruja e esponja. Pequenos gestos vão gerar grandes cidadãos.

Eu acredito que essa bandeira, mesmo surrada por ora, voltará a ficar maravilhosa, perfeita. O que parece hoje maltrapilho será novamente elegante, vistoso. Basta que façamos nossa parte. Por mais insignificante que possa parecer.

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A saudade, a esperança e a atitude

No âmago do sentimento nacional estava a vontade contida de se manifestar. A insatisfação transbordava. Mas a índole desse povo não carregava em si o espírito da manifestação. Era um povo que precisava aprender a expor seu sentimento pra provocar mudanças reais.

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As aparências encantam

Será que é? Eu acho que não ... e você?

Olhe bem, chegue mais perto. Abra a janela, deixe a luz entrar e arregale os olhos. Toque, use outros sentidos. Será que é isso mesmo? As aparências enganam. E encantam ...

Quem compartilha compromete

Conhecimento não é pra ficar enclausurado, protegido, lacrado, como se fosse sua arma secreta.

É um bem precioso, com certeza. Você batalhou e continua batalhando para acumular essa bagagem teórica e prática. Usou de várias estratégias, tentou, acertou, errou, absorveu, adaptou, melhorou, por vezes quase desistiu. Mas o resultado foi sensacional: tornou-se especialista. Parabéns, só você sabe fazer. E agora?

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Gestão alienista

Pensou diferente? Isolamento imediato!

Simão Bacamarte, personagem da obra de Machado de Assis, O Alienista, pensava exatamente assim. Baseado em seu grande conhecimento a respeito da loucura, criou a Casa Verde. Nela internava qualquer habitante que considerava com comportamento fora do padrão. Vaidade, alegria, inveja excessivas eram rotuladas como loucura. Naturalmente a casa lotou, causando revolta na cidade de Itaguaí. No final mudou seu conceito, considerando louco somente aquele que não tivesse esses "desvios", pois admitiu que tais posturas eram normais. Resultado: somente ele acabou internado na casa e faleceu ano e meio depois.

Procure então transportar esse cenário para seu dia-a-dia, no trabalho, em casa. Quantas vezes não isolamos pessoas que não pensam exatamente como a gente? Internamos os opositores em nossa Casa Verde até que comecem a aceitar nossas ideias, nossas crenças. E a maioria delas continua com seus conceitos, suas convicções. Ficarão lá pra sempre. Por outro lado também somos isolados por outros pares. Nossos colegas, superiores, nossos filhos, amigos. Por vezes provocamos situações por orgulho ou ego, custando a admitir que outros podem ter ideias boas.

Consideramos "normais" somente aqueles que concordam plenamente com nossas posturas. Algo que formamos por termos passado por experiências só nossas, únicas. E é óbvio que as crenças que cultivamos podem divergir das de outros. Afinal de contas, cada vida tem sua singularidade.

O espaço entre o que acredito e o que o outro acredita pode ser extenso, mas devemos tentar aproximar nossos pontos de vista, criar uma intersecção entre as ideias. Procurar respeitar argumentos alheios, mantendo nossa individualidade. Essa atitude exige boas doses de compreensão e argumento. Tanto pra se alinhar a outras cabeças quanto para convencê-las de que suas experiências agregam valor.

"Anormal" seria agir ou esperar que outros ajam como um camaleão, adaptando-se a cada cenário o tempo todo. Desse jeito não acontece a troca, não há reação, substâncias iguais não criam nada novo, não há crescimento.

Não acabe como Simão Bacamarte. Se insistir em pensar que o "normal" é apenas você, restará isolado de tudo e todos. Poder e autossuficiência na solidão não valem de nada.

Pra finalizar, cabe um clichê: não construa cercas nem muros, construa pontes.

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Gangorra da saudade

Na maioria das vezes a saudade é serena, uma visita agradável. Tem um gosto especial, adocicado. Uma memória do bem, leve. Recordação do que foi e que tem todas as condições para voltar a ser.

Mas às vezes se manifesta teimosamente triste. Cheia de por quês ...

Tiro certeiro

Depois que o coração toma as rédeas será que a mente tem condições de assumir o controle?

Aquela vontade incontida se transforma na dona absoluta dos sentidos. Olhos focados, cheiro insistente, o gosto teimoso na boca, o toque que arrepia, aquela música que não para de tocar ...

De baixo pra cima

Tentar sempre, não desistir. Agir assim, positivamente. Ir atrás, cair, levantar, correr, trombar, cair, levantar, voar, cair, levantar ... Motivar quando tudo vai bem é fácil. Quando se vê o mundo de cima pra baixo tudo fica mais tranquilo. É como puxar alguém pro alto, pra junto de você. Mas quando se está por baixo? De onde tirar forças quando sua mente trava?

...

La Chascona nossa de cada dia

Viajar transforma, alimenta, soma. Tivemos a felicidade de ir a Santiago e conhecer La Chascona, uma das três casas que guardam a história de Pablo Neruda.

Nessa casa Neruda viveu momentos especiais com Matilde Urrutia. Em seu início, momentos secretos com sua amante. Mais tarde, uma relação intensa com sua companheira derradeira. A mesma Matilde, terceira esposa, musa maior.

Aliás, a casa tem esse nome em alusão a seus cabelos, encantadoramente revoltos. O termo Chascona vem do vocabulário quechua. Significa desgrenhada, despenteada. Ele a tratava por medusa também:
...
     En Italia te bautizaron Medusa
     por la encrespada y alta luz de tu cabellera.
     Yo te llamo chascona mía y enmarañada:
     mi corazón conoce las puertas de tu pelo.
...

A paixão que Neruda nutriu por Matilde foi uma das molas propulsoras de sua obra. A paixão nos faz produzir, encarar os desafios com a mente estimulada, acesa, criativa.

Projetos de vida, ideais, são paixões tão marcantes quanto romances. No caso de Matilde e Neruda, tiveram um encontro rápido 3 anos antes de começarem seu caso de amor. Então, conviveram secretamente por mais 6 anos até, finalmente, poderem espalhar pro mundo sua linda história.

Durante o tempo em que conviveram em segredo, Neruda a citou em vários poemas e livros, de maneira subliminar, declarando-se a cada verso, a cada parágrafo. Em outras obras aparecia um pouco mais óbvia, arriscando o sigilo, quase quebrando o encanto. É possível imaginar sua mente levitando ao esperar pelo próximo encontro. E sua mão descarregando a paixão no papel.

Quem nunca provou o gosto de uma paixão arrebatadora, incontrolável, mas totalmente fora de contexto, impossível? Uma viagem solitária quando os filhos clamam por atenção? Uma troca de profissão quando se descobre, meio sem querer, o que realmente o completa, mas que implica jogar pro alto todas as conquistas e recomeçar?

Então por que não, como Neruda, sentir intensamente seu gosto e guardá-la com cuidado pro momento certo? Por que não transformá-la no seu combustível, na sua motivação? Dar tempo ao tempo, mas não extirpar de vez a opção maravilhosa, a dádiva que lhe foi entregue.

Quem dera todos se permitissem viver essas paixões e não as descartassem como se fossem algo ruim, frustrante. Aceitar que a inviabilidade do momento irá se transformar na semente de algo bem maior. Acolher e embalar o sonho, mantendo a realidade também viva, embelezada pela possibilidade daquilo que já foi provado e aprovado. Inclusive misturando o desejo a sua obra de vida, construindo aos poucos o castelo, sua irresistível utopia, sustentado pelos alicerces da alma.

La Chascona pode ser um mantra. Uma oração. Um alívio. Uma esperança.
La Chascona pode transformar seus dias.
La Chascona nossa de cada dia.

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Amor, paixão e trabalho

Não se trata de relacionamentos NO ambiente de trabalho. O foco da abordagem é amor e paixão PELO trabalho.

A paixão é o extrato do amor, início e ápice. E, via de regra, tem prazo de validade ...

Meta ou reconhecimento?

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A participação do indivíduo dentro das ações desdobradas em novos projetos ou na gestão de processos passa pela percepção de sua real contribuição. Passa necessariamente pela consciência plena de seu propósito na empresa. Consciente dos "por quês", irá atrás dos "quês" e consequentemente dos "comos"

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O líder que transpirou (e inspirou!)

Sempre foi do bem, sempre foi atrás, nunca esperou.

Desde que se entende por gente, contribuiu, fez questão de fazer o melhor, mesmo que ninguém estivesse reparando. Seguia o conselho da mãe: deixe melhor do que encontrou. No pai enxergou o esforço, a persistência, a competência e o gosto pelo trabalho.

Este camarada não se importa em admitir que não sabe. Não se faz de rogado, vai lá e pergunta. E não interessa se é superior, subordinado, diretor, servente. Aliás, para ele, hierarquia não representa ser, representa estar.

Nunca rejeitou desafios. Pelo contrário, sempre foi atrás deles. O ontem não conta, já passou. Hoje é o que importa para que o amanhã seja enfrentado de frente, com força.

Certa vez, ao ser convocado para resolver um grave problema na empresa, resolveu chamar todos de sua equipe para a primeira decisão. Detalhe: ele não tinha a mínima ideia do que iria fazer. Começou ouvindo a todos. Foi alinhavando os argumentos, arrematando as ideias, instigando os sentimentos, captando as mensagens que saíam das feições, das mentes de seus liderados. Não era a primeira vez que utilizava essa dinâmica. Mas desta vez sua antena estava captando algo novo, algo que o desafiava, mas não sabia exatamente o que era. Na verdade, seu time começava a duvidar de sua capacidade de resolver problemas. Para ele aquilo era um bom sinal. Um orgulho até, pois as criaturas começavam a desafiar o criador. Um momento inevitável, mas para o qual não havia se preparado. Era uma ótima chance para crescer junto com os pupilos.

Há muito não atuava na camada operacional. Não de modo empolgante como no começo da carreira. Sentia muita falta disso. Conceber, planejar e executar. Isso, sim, o realizava.

Pensou, pensou e resolveu aproveitar aquela sacola de limões para quem sabe fazer litros de limonada. E se invertesse os papéis? E se seus liderados se organizassem para estruturar as decisões eles mesmos? E se ele se colocasse nas várias funções operacionais, seguindo as orientações dos "chefes"? Com certeza, não seria fácil, pois as rotinas operacionais não eram simples, assim como gerenciar e liderar era algo novo aos membros da equipe.

Objetivos e metas estabelecidos, lá foram líderes e liderado enfrentar a crise empresarial. Assumir desafios com uma visão diferente era uma grande oportunidade. O líder transpirou, transpirou muito, como nunca havia feito antes. Por outro lado, os liderados experimentaram a inspiração a um nível a que nunca haviam sido submetidos. Sentiram na pele a pressão de decidir, de conduzir. Já o líder percebeu que havia vários aspectos a melhorar na operação, pontos que fariam a diferença entre apenas executar e realizar, se esmerar.

O líder, transpirando, inspirou os liderados. Quando voltarem às suas posições estarão transformados. Nunca exercerão suas funções na simplicidade de suas atribuições. Não são mais os mesmos. Cresceram juntos. Agora têm o que é necessário para continuar evoluindo, pois reconhecem uns nos outros o valor de suas competências.

Podem ter certeza, se persistirmos, formos competentes, gostarmos realmente do que fazemos e trabalharmos forte deixaremos as coisas bem melhores do que quando as encontramos.

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A experiência do cliente

De Brunos, Kellys e Daniéis.

Compramos um fogão novo. Mesmo modelo, medidas diferentes. Normal. Bora atrás de um marceneiro para acertar o armário. Indicação feita, liguei para Daniel ...

A barata da crise

Uma máxima nos cenários de crise: enquanto a maioria chora, alguns vendem lenços. Pois é, então o negócio é se preparar pra vender os benditos.

O que se procura em momentos de crise? Em que pessoas e empresas estão dispostas a investir em épocas de vacas magras?

...

Ordenhando pedra

Dentre as atividades da cadeia de valor de uma empresa, a venda é uma das mais importantes e sensíveis.

"Quem faz não vende". Como é triste ouvir isso. Fazer e ao mesmo tempo vender ficou no meio do caminho devido à necessidade de implantação de uma escala industrial. Antigamente o marceneiro anotava as demandas, projetava, orçava, vendia, construía, cobrava e entregava o armário. Seu prazer era distribuído em toda a cadeia de valor. A especialização fatiou o ciclo, dividiu responsabilidades, embutiu ruídos.

Eventuais acertos no processo eram rapidamente viabilizados. Não havia necessidade de expedição de ordem de serviço, comunicação interna, despacho. Atrasos devido a handoffs (transferências de controle) inexistiam, a não ser aqueles gerados por sua própria ineficiência. O artesão era cobrado pelo atendimento ao cliente, pela entrega. Aliás, sabia exatamente o que produzia, seu valor agregado, além de identificar claramente o seu cliente. O importante era fechar o ciclo desde a encomenda até a entrega. Ponta a ponta.

Bem, voltemos às vendas. Dois dos sintomas mais comuns decorrem justamente da formação de feudos organizacionais, bem como pelos indicadores individualizados que os perpetuam. A área de vendas não conhece os produtos e a produção ignora as reais necessidades de seus clientes. Isso pra ficar somente nessas duas áreas. Mas a maior cobrança geralmente recai sobre a área de vendas. E, mesmo assim, essa área, em grande parte das empresas, é relegada a uma categoria secundária. Outra tristeza.

Pois se não houver venda, não haverá produção, nem razão pra existência da empresa.
Então o vendedor tem que tirar leite de pedra, certo? Errado. Tem que tirar leite de vaca mesmo. E a vaca (empresa) tem que ter seu organismo inteiro voltado tanto pra produzir quanto pra VENDER leite. Quanto mais estiver enraigado o instinto vendedor em todos os colaboradores da empresa, maior será seu resultado. Quanto mais distribuído o conhecimento do processo de produção, maior qualidade o produto terá.

Conceito similar se aplica a concepção de novos serviços e produtos. A cultura inovadora deveria ser a segunda pele do colaborador. O intraempreendedorismo é essencial para as organizações, independente de tamanho. Olhos e mentes abertos e atentos pro mercado. Impossível no coração e viável na cabeça. Compartilhamento gera COMPROMETIMENTO. Facilitar e estimular esse ambiente deveriam ser preocupações fundamentais dos gestores da empresa.

Todos deveriam conhecer a cadeia de valor por inteiro, mesmo que ainda estejam inseridos em um modelo departamental, feudalizado. Deve-se permitir que cada um tenha condições de contextualizar a importância de sua parte no todo. Cabe dizer que a Gestão por Processos não é implementada da noite pro dia. Enxergar, gerenciar e implementar processos é uma arte. Fazer com que os colaboradores identifiquem seus clientes é outra ação primordial. Além, é claro, dar condições pra que conheçam, se apaixonem e divulguem seu produto ou serviço.

Enfim, o assunto é extenso e pode render várias crônicas.

Mas uma coisa pode-se afirmar sem medo: pedra não é a matéria-prima pra produção de leite.

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Programador, esse privilegiado

Comecei minha carreira como programador. Dediquei-me a produzir e entregar. A pensar no processo, nas ferramentas e no produto. A focar meus objetivos, o que precisava executar pra que o projeto tivesse pleno êxito.

Na ânsia de realizar, voluntária ou involuntariamente, eliminava o contato humano. Coisa chata essa de ficar se comunicando. Ainda mais na área de tecnologia. Bom mesmo era interagir com o computador. Aquele cara, apesar de seu jeitão frio, imponente, obedecia a tudo, sem reclamar. Não questionava, não ficava de mau humor. Uma maravilha.

Mesmo se tentasse me comunicar com seres da mesma espécie, seria complicado. Naquela época, a estrutura funcional de uma equipe de desenvolvimento de sistemas abrigava n níveis. Como programador, era raro ter contato com quem denominávamos "usuário". O prazer do contato humano externo à área de sistemas cabia exclusivamente ao analista de sistemas. Ruídos entre a especificação e o produto final eram corriqueiros. E ficávamos isolados, sem o rico benefício do choque de experiências. Nosso caldo de relacionamento era pobre.

Porém, ao longo do tempo, a bela arte da construção de código (programação) se aproximou de seu, digamos, cliente. Que coisa boa!!! Poder trocar ideias diretamente com quem utilizará o resultado de seu esforço. Produzir e apresentar. Ficou bom? Não? Pode deixar que eu altero! Que tal incluir esse botão aqui? Pode ser? Bacana!

Há quem questione os novos métodos de desenvolvimento de sistemas. Eu mesmo, dinossauro que sou, já os critiquei bastante. Hoje, com tantas soluções prontas e complexas, o espaço para desenvolvimento de sistemas inteiros está acabando. Planejamento e longos prazos pra entrega são raros. Há muito mais customizações (alterações no que já existe) do que grandes desenvolvimentos. Essa é a realidade da grande maioria das equipes de sistemas. Os ciclos diminuíram. Agilidade é a nova ordem.

Voltando à minha carreira, progredi dentro da área técnica, passei por áreas e operacionais e de gestão, montei uma empresa, tive o prazer de acolher e formar profissionais. Tive a oportunidade de conhecer pessoas nas mais diversas posições, com perfis variados. Desenvolvi habilidades comportamentais, de relacionamento.

Isso me faz pensar no privilégio que os profissionais de sistemas agora têm em poder estar mais próximos de outras cabeças desde o início de suas carreiras. Tenho imaginado quanto tempo não teria economizado em minha formação pessoal se tivesse tido essa chance.

Deu vontade de voltar a programar.

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Mais do mesmo, só que não.

Uma das causas da acanhada competitividade de nossas empresas é sua baixa produtividade. Logo, há muito espaço para melhoria de seus Processos. Como dizem: “em terra de mato alto, quem tem foice cega é rei”.

...

Aberto pra balanço

Vai chegando o final do ano e, ato contínuo, começamos a montar o mosaico das aventuras vividas nos últimos 365 dias. O que planejamos e o que realizamos. Ou aquilo que nem imaginamos e aconteceu. Ruim ou bom, tanto faz.

Como "medir" seus sonhos? ...

Erro

Termo forte. Conclusivo. Um resultado. A base de algo, um início também.

Ora causado por indecisão, procrastinação. Ora surge do impulso, prepotência, autosuficiência. Ora foge de nosso domínio, algo externo o provoca.

Quando vem do fazer, menos mal. Melhor agir, com certeza.

Se é resultado de açodamento, frustra. Não deu pra avaliar, medir, desenhar e decidir. Faltou algo. Se provém de excesso de análise, de preciosismo, dá a impressão de que queimamos tempo à toa. Faltou perspicácia, foco.

Arrependimento, melhor não. Mesmo no vácuo da ação, mesmo no vazio.

Se serve de mola, alivia, soma. O volume de erros supera em muito os acertos. E assim deve ser. É sabido que o erro ensina muito mais.

Perguntas se sucedem. Quanto mais, mais rico o aprendizado. Fiz? Deixei de fazer? Decidi? Deleguei? Subestimei?

Respostas também. Aquilo que era certo, preciso, não era bem assim. Devia ter percebido os sinais. Não eram claros. Cinza era a cor. A dúvida persistia.

Olhar pro erro e enxergar a si mesmo, sem rodeios, cru, escancarado. Enfrentar o bendito que não te deixa sossegado. É um cara teimoso.

Vai que, de quebra, ele aponta o caminho? Vai que lhe pega pela mão e faz atravessar seus medos, enterrar de vez suas desculpas, suas muletas?

Que tal montar um painel com todos os seus erros? Tenha certeza de que valem infinitas vezes mais do que seus troféus. São sábios, persistentes, lastros eficazes.

E a cada vez que os encarar, lembre-se do quanto aprendeu. Digira um a um, por mais doloroso que seja. Eles estarão ali pra lhe trazer pro chão, pra lhe alavancar e sustentar seu crescimento.

Enriqueça sua galeria. Nunca deixe de errar.

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Tabela, aro e bola

Encontro mágico, esse. Toda vez que entro na quadra começa uma conversa intensa. Eu, a tabela, o aro e a bola.

Cada um com seus argumentos. Se engana quem acha que aro e tabela são estáticos, frios. A cada arremesso o aro se prepara, se ajeita. É generoso ou teimoso, dependendo de quão atraente ou dissimulada é a bola. A tabela, por sua vez, veste-se de uma combinação de conforto e rigidez, mesclando um ato conjunto de rebeldia ou benevolência com seu par, o aro.

Pobre da bola, pretensamente comandada por minha mão, que tem como destino esse par de atores temperamentais. Impulsionada com carinho, às vezes desespero, falta de jeito ou até rispidez, a bola tem um tempo pra se preparar. Está prestes a protagonizar o desfecho um lance. Estaria o aro receptivo? Quem sabe com a ajuda da tabela então? Brincaria ao redor do aro, até convencê-lo a ceder?

Durante sua viagem mágica a bola ainda tem que ultrapassar predadores. Em sua trajetória ascendente pode ter frustrada a caminhada por um toco assassino. Bem perto de seu objetivo, enquanto quica entre aro e tabela, uma outra mão boba ainda pode lhe maltratar. Obstáculos vencidos, ele se prepara triunfante pro seu ato final.

Putz, como pude esquecer da redinha? Aconchego final da bola, tem o carinhoso papel de amortecer. Como um bandeirada, sela o esperado ato do ponto. Ah, e quando o chuá acontece, não há som melhor de se ouvir. Alinhamento entre trajetória e aro, tem a bola como mensageira. Simplesmente perfeito.

Descrito o ato da cesta, volto pra mim e a bola. Quanta conversa se trava, quanto conselho se troca, quanto problema se esmaga? Às vezes a bola fala demais, aporrinha também. Mas, confesso, me conhece como ninguém. Me desmonta direto. Responde com pergunta, tagarela, desafia. Teima em escancarar o que sei, mas reluto, combato com todas as minhas forças. Vou capitular de novo, não tem jeito. Essa camarada é implacável. Aliás, ela sempre tem razão.

Mas tem o momento perfeito. A sequência de acerto, a sintonia fina. Mão, mente e bola. Um transe, um mantra. Desde o quicar até o voar. Cabeça alinhada pro chute, uma mão direção, a outra, força. A testa como guia, bola escondendo o alvo, o aro. Nem preciso ver, sei decor, ele está logo ali, fiel. Movimento reflexivo, involuntário, sai a bola girando, trajetória suficiente, certeira.

Louvo esse trio, ou melhor, esse quarteto, com a redinha. Generosos, imparciais, acolhedores, sinceros, diretos.

Mais que parceiros, têm sido meus terapeutas. Disponíveis e prestativos, me transformam a cada sessão.

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Espaço pro olhar

Muitas vezes a beleza verdadeira mimetiza. Muitas vezes olhamos, persistimos e não enxergamos nada além do belo. A forma sonega o conteúdo.

Cada um de nós tem algo de especial pra ser olhado. E enxergado. Mas nem sempre temos o privilégio de sermos mirados por olhos e mentes sensíveis. Por alguém que realmente nos leia. E entenda.

Não é preciso estar no mesmo espaço, ou tempo. Enxergar o outro com olhos especiais não nos exige muito. Uma obra, uma poesia, um recado, o resultado de um projeto, o reconhecimento de uma ação. Em tudo isso cabe um olhar cuidadoso. Olhos que sabem ver percebem o singular, o único.

Da mesma maneira, o modo com que agimos, nos comportamos, deixa portas abertas pra recebermos esses olhares. Se colocarmos pulmão, coração, acreditarmos, faremos com que outros olhos percebam nossa essência, nossa intenção. Estaremos transparentes, seremos nós refletidos, sem maquiagem, in natura.

É uma troca que começa com a bondade de quem se deixa perceber, se completa na sensibilidade de quem vê, e termina no prazer de ambos, vivendo esse momento ímpar.

Sabe-se que os olhos são as janelas da alma. Tudo que uma janela precisa é de uma constelação pra contemplar. Seja esse céu estrelado. Deixe-se perceber. Sempre haverá uma janela esperando sua luz, sedenta por seu espaço.

Outros versos e prosas

Os porquês e os comos

Sábado de feriadão, na praia. Tenho que consertar a ducha. Tava empurrando com a barriga faz um tempão.

Comentei com meu irmão que se dispôs a dar uma olhada. Eu já tinha chegado ao limite dos meus conhecimentos. Ou seja, substituí a resistência, o que, pra mim, era uma vitória. Mas não havia resolvido. A maledeta simplesmente não ligava.

Meu irmão, apesar de nem saber como desmontar, foi à luta. Me explicou, com toda boa vontade, que existia "um cara" dentro do mecanismo da ducha que avisava quando havia água e a acordava, acionava a energia elétrica, aquecendo a água.

Primeiro foi uma seção pra tirar a ducha da parede. Nessa parte eu até dei meus pitacos. Depois veio a investigação. Ele desmontou quase todo o mecanismo. Sua primeira opinião era que o "diafragma" estava furado. Putz, vai saber o que é esse bendito? Cautelosamente, após um procedimento cirúrgico, retirou o diafragma daquele corpo inerte.

A ducha, a essa altura, respirava por aparelhos. Mas foi adiante. Pra descobrir se o diafragma estava perfeito, fez respiração boca-a-boca no bendito. Graça a Deus, não havia furo nesse órgão importante. Pensou então por uns 10 segundos e procedeu outro boca-a-boca, agora no duto estreito abaixo do diafragma. Bingo! Estava entupido. Seu semblante se transformou. Satisfação por todos os poros. Havia descoberto a causa dos males do paciente.

Como um cirurgião experiente, solicitou "agulha". O instrumentador aqui correu e buscou o apetrecho requerido. Com mãos habilidosas, limpou o canal. Depois, num ato de coragem extrema, suturou a ducha, digo, remontou seu mecanismo. Se fosse eu, muito provavelmente sobraria uma dúzia de parafusos do corpo original.

Finalizada a cirurgia, remontada a ducha, bora testar o mecanismo de acionamento da eletricidade. Vocês até podem ver no vídeo o funcionamento dos órgãos internos de uma ducha. Quando a água entra, empurra mecanicamente por pressão o diafragma que, por sua vez, fecha o circuito de energia. Dali pra diante entra em ação a resistência que aquece a água. Aliás, nesses tempos de ativismo político, daria até pra fazer outra crônica só pra falar da resistência, rsrs.

Enfim, foi uma manhã proveitosa. Relacionamento com o irmão e mais uma lição aprendida. E não tô falando só do funcionamento da ducha. Falo principalmente de como ir atrás dos "porquês", pode nos levar aos "comos". Conhecimento, habilidade e atitude. Esses três, movidos pelo combustível do desafio, definitivamente, nos tiram da inércia.

Ah, de que irmão estou falando? Do Mário, mas bem que podia ter sido o Alcides (Júnior), que já quebrou meu galho inúmeras vezes.

Agora dá licença, vou tomar uma ducha ...

Abraço!

(obs: para trabalhar a ducha é preciso DESLIGÁ-LA da rede elétrica! Além disso, não custa lembrar que antes de qualquer procedimento deve-se desmontar o disjuntor!!!)

Outros versos e prosas

Eu te amo meu Brasil, eu te amo

Calma, calma ... Praqueles que lembraram da música dos anos setenta, não é nada disso.

Há quase exatamente dois anos boa parte dos brasileiros se apaixonou pelo país. Saímos às ruas, bradamos ao vento, demonstramos de várias maneiras.

Passamos a conviver com nossa paixão, a pátria amada. Opa, vamos com calma. Ainda era cedo pra falar em amor. Acordamos, a vimos descabelada, com cara de sono, de ressaca. No começo tudo era novidade, gracioso até. O mau humor, não demonstrado anteriormente, veio à tona aos poucos.

Enfim, a rotina e as pequenas decepções começaram a surgir. Nossa paixão foi perdendo o ímpeto. Dizem que dois anos é um prazo razoável pra paixão debandar. Então vamos valorizar o que temos de melhor, o que já conquistamos juntos nesse período. Essa brasa precisa de uma brisa persistente.

Tá na hora da verdadeira história de amor começar. Ou melhor, de transformar a chama quase apagada da paixão, em um verdadeiro amor.

Essa relação tem tudo pra dar certo. E que seja infinita mesmo. Não como a paixão que, como disse o poeta, só é infinita enquanto dura.

Admiração, bom humor, inteligência, verdade, beleza. Os ingredientes do amor. Tudo isso temos de sobra. Bora lá, então.

Brasil, eu sei que vou te amar por toda a minha vida.

Outros versos e prosas

Ajudante de duende

Algo tem me intrigado por mais de metade de minha existência. Um mistério persistente. São sinais evidentes que algo muito especial transforma meu dia-a-dia. Cheguei à conclusão de que só pode ser coisa de duende.

Começa bem cedinho, ao levantar. Vou à cozinha e encontro tudo pro meu café. Tudo no seu lugar, intacto. Vou tomar banho e, magicamente, está lá a toalha sequinha e dobrada. Como pode? Se tava ensopada ontem? Avanço, abro as gavetas e lá estão minhas roupas, arrumadas.

Dou uma passada nos quartos e as meninas e estão dormindo, ou já saíram pra escola. Tudo nos conformes. Abro a geladeira e vejo só coisas saudáveis pra comer. E o melhor, ela tá quase sempre vazia. Agora reconheço o bem que isso tem me feito através dos anos. A casa, a vida, tudo no seu lugar. Rotina boa. Quem me vê falando, deve estar estranhando. Tá gostando da rotina? Sim, o poder dessa duende transcende. É maior.

Se tem algo que derrete essa duende são os animais. Observa todos os cãezinhos nos portões das casas. Fica triste quando vê que um deles fugiu, ainda de coleira, meio perdido. Briga com quero-quero, espia corruíra, chupim, sabiá, rolinha, tico-tico, pardal, canarinho, andorinha, bem-te-vi, tucano, joão-de-barro, até jacu! Sem falar numa preá que ousou perturbar o sossego do lar. Levou um golpe de vassoura paralisante. Suficiente pra ser capturada em uma caixa de sapatos e ser libertada mata adentro. E dá-lhe conversar com as violetas. Companheiras de anos, esperam atenção pra revelar sua graça.

Dotty, caçula da casa, é seu xerox em moldura canina. Nossa branquinha não deixa a duende em paz. E desconfio que as duas adoram isso. Não há como separar os hábitos de uma e outra. Desde comer mamão no café da manhã, banana no almoço e pipoca no filminho à noite. Sem contar os cochilos indispensáveis da tarde.

Essa duende tem ciúme de cada pedacinho da casa. Mas apego não é com ela. Se tiver que, num toque de mágica, fazer sumir algo que não tem mais serventia pra gente, não tem problema. Rapidinho vai pra outra casa que necessite.

Como toda duende que se preza, tem paúra de bichinhos voadores, mais conhecidos como baratas e similares. Nessas horas até que o aprendiz aqui faz a diferença. Herói provisório, elimino a ameaça sem perdão.

Isso tudo sem contar seu papel como fada, digo, duende dos dentes. Tratou de seus pacientes durante anos. Adorava principalmente os pimpolhos. As crianças sempre foram sua paixão. Tratar desses pequenos a realizava. Dava pra perceber quando seus olhos brilhavam ao contar o jeitinho de cada um. Os rendia com um desenho pra pintar, um falar "pequenininho". Eles, hipnotizados, deixavam seus dentinhos aos seus cuidados. Encerrou sua jornada e nos presenteou com sua dedicação exclusiva. Sorte nossa.

Ultimamente tenho visto que tem poder sobre minha mochila de trabalho. Indiscutivelmente conseguiu fazer com que a dita cuja entre em casa e permaneça no mesmo canto em que chegou, intocada. No outro dia de manhã nem preciso me dar o trabalho de arrumar tudo pra sair. De tanto ver o mané aqui no celular, passou a participar das redes comigo. Mas esse aparelho é outro que tá cada vez mais quieto no seu canto. Daqui a pouco vai pra geladeira também. Ah, outra travessura do bem: com seu encanto transformou novela em filme. Convenhamos, isso, realmente, merece destaque.

Minha esperança é que um dia eu consiga ser um ajudante de duende à altura. Não levo muito jeito. Acho que meu período de aprendiz de ajudante de duende vai levar mais um bom tempo. Tenho consciência que me falta um sentido. Os cinco que todo mortal tem, já tenho. O bendito desse sexto sentido é que mata. Pelo jeito, vou ter que esperar outra encarnação.

Tudo que sei é que não dá pra entender. O negócio é sentir. E sentimento é o que não falta.

Dizem que os duendes cuidam de um pote de ouro no final de um arco-íris. A minha duende cuida do nosso pote de ouro, nosso lar. E faz isso como ninguém.

Essa crônica vai pra duende Regiane, uma criatura especial que descobri há quase três décadas.

Outros versos e prosas

2017. Essa vai pros primos

Primo. Quase indivisível. Só se divide com o indidvíduo e com ele próprio, primo. Egoísta? Não. Especial, único, talvez.

Outro só daqui a 10 anos. 2011 foi o último. Não é inédito, é 306o da lista dos primos.

Mas é primo. E, de certa maneira, por sua etimologia, é o primeiro. Volta e meia um deles aparece. Um recomeço, quem sabe.

Primos de primeiro, segundo, n graus. Distantes, próximos, uns mais que irmãos. Histórias, aventuras. Um alento, um carinho, uma força.

Que a gente não se divida assim como o primo 2017. Se some, se multiplique.

Que esse ano ímpar, seja, sim, ímpar também nas realizações!

Abraço do primo.

Outros versos e prosas

Esperar e confiar

Em alguns momentos da vida não há nada a fazer senão esperar e confiar.

São as nossas pausas. Quando a caminhada, a corrida, recebe a vírgula necessária. Tudo o que foi feito até então deve ser visto como o possível, o suficiente. Até porque não há como voltar e refazê-lo. Algo que pode receber como resultado a benção do bom, ou a resignação e o aprendizado de algo não tão feliz.  O porvir sim, esse depende, em grande parte, de como agimos no presente.

É como voltar à maternidade, ao seu local de nascimento. Justamente ali, onde a soma de meridianos e paralelos é zerada. 

Durante nossa existência vários ciclos são fechados e outros se abrem, escancarados, com todas as possibilidades. Mas nem sempre estamos preparados pra reconhecer, receber e aceitar esses momentos. Comumente os tratamos como destino, fatalidade, sorte. Perdemos uma oportunidade gigante de fazer um balanço, um arremate. Tanto na fortuna quanto na tristeza.

Revolta, euforia. Oito ou oitenta. Temos que quebrar essa tendência, ponderar. E só olhar pra trás não resolve, muito menos ficar eternamente esperando algo. Sabe-se que excesso de futuro é ansiedade, e de passado, depressão.

Vamos esperar e confiar. Esperar o que inevitavelmente virá, no seu tempo. Confiar que lidaremos com o resultado do melhor maneira possível. Confiar no que fizemos até agora. Será nossa base, nossa estrutura. Ter consciência de que nossos alicerces são fortes, mas nossas decisões, falíveis. O importante é ter discernimento pra reconsiderar, pra tomar outros rumos.

Por fim, uma outra citação. Tudo passa, tanto as tristezas quanto as alegrias. Quando essa consciência nos atinge começamos a viver com intensidade os momentos, agradecendo os bons, enfrentando os ruins, e crescendo em ambos.

Vivemos, então, alinhados com o tempo. Compreendemos sua sabedoria e majestade.

Outros versos e prosas

Teimosa dicotomia

O ser humano é um bicho intrigante. A tendência de se posicionar binariamente é irresistível.

Pra cada Obama, um Trump. Pra cada Eixo, um Aliado. 

Esquerda, direita. A disputa, o posicionamento, a aposta.

Já se disse, o ponderado é chato. Não dá Ibope, nem voto. Além disso, mesmo no consenso, o sentimento de perda prevalece. E é dele que corremos, como o diabo da cruz - olha aí a dicotomia de novo. 

No acordo, o ato de ceder nos perturba, nos judia. Olhar vidrado na fita vermelha do cabo de guerra. O pouco que escape pro outro lado é uma facada n'alma. Um pedaço do ego que se desintegra.

A crítica e o olhar impiedoso que se aplica sobre os acordos também é responsável pela insanidade das disputas. São adjetivados de conchavo, pizza. Como se por trás de tudo existisse a má intenção. Aí não tem jeito, o negócio é trucidar o adversário, o inimigo. Sob pena de o julgamento nos colocar na vala comum dos corruptos, nos rotulando definitivamente como useiros e vezeiros do jeitinho.

É bem provável que não exista fórmula pra resolver essa característica da índole humana. O ganhar tá entranhado na gente. O custo desse ganhar é que pode ser meditado ao se entrar numa demanda. Acredito que cada um de nós colecione experiências durante a vida. Uns mais, outros menos. A diversidade e o entendimento de cada uma delas pode nos aproximar dos acertos, da medida certa entre o ceder e o conquistar.

E você? Vai concordar comigo ou não? Se posicione de uma vez! (rsrs)

Outros versos e prosas

A(E)na(o)logia

Eu gosto. É meu companheiro quase que diário e, confesso, não entendo nada de vinho. Mas a riqueza das análises, os detalhes misturando formas, sentidos, o tratamento íntimo e pessoal que enólogos dão ao fermentado, me encantam.

Decidi então, estender as interessantes analogias dos enólogos aos sentimentos.

Aprendi que quanto mais maduro, mais pro tanino o vinho vai puxando. E os amores então? Tanino seria a fórmula pra mantê-los vivos? É um gosto estranho, meio amargo, sei lá. Mas pode dar liga, quem sabe?

Relação tem arestas? Tem vinho que tem. Ou pode ser uma relação redonda. Ou seja, quando nada se sobressai, nem briga, nem afeto. Tudo equilibrado. Uma relação redonda deve ser meio chata ...

Que tal um relacionamento frutado? Notas de chocolate meio-amargo no início, uma acidez provocante durante, e um calor atrás da garganta no final? Putz, já tá ficando erótica a coisa, rsrs.

Tem beijo ácido? Vinho, tem. As laterais da língua identificam a acidez. Quando se beija não dá pra identificar direito a lateral, a ponta, embaixo, em cima. As danadas ganham vida. Via de regra, gosto é o de menos. Prestar atenção na acidez, esquece.

Dizem que tem vinho que dá quase pra morder de tão denso. Aí, sim. Num relacionamento também acontece. E com gosto, na medida certa. Senão, como um bom vinho tomado às pressas, pode engasgar. Digamos que uma mordiscada não faz mal a ninguém.

Há vinhos complexos. Ah, agora vou me achar. Complexidade no relacionamento tá facinho de definir. Esses vinhos têm maior variedade gustativa, às vezes deve-se decantá-lo. Entendi. É como alguém sensível, onde a sutileza e as mensagens sublimares imperam. Merecem cuidado especial, pois são enigmas intrincados. E, na maioria das vezes, valem muito a pena.

Por outro lado, temos os vinhos fáceis. Esses devem se equiparar aos relacionamentos que nos inspiram, descomplicam. No caso dos vinhos harmonizam com um prato. Já o prato do dia-a-dia, da vida, muitas vezes indigesto, também merece um relacionamento fácil, divertido.

Quando se classifica um vinho como austero, o sentido é um pouco diferente. Dizem que é a cara com que ficamos quando o degustamos. São vinhos com tanino acentuado. Talvez não estivessem prontos ainda. No caso das relações elas seriam verdes, o par era imaturo, arredio. Acho que nesse caso a analogia não ficou no jeito, rsrs

Já os vinhos persistentes são aqueles que se recusam a lhe deixar, seu gosto fica por mais tempo. Aí até dá pra comparar. Tanto pro bem, como pro mal. Pode-se ficar com um gosto bom quando a relação acaba, assim como ela pode deixar algo amargo, ruim. Vai da experiência vivida, de sua intensidade.

Que tal um relacionamento generoso? Se fosse um vinho, seria fortificado e licoroso. Fortificado porque recebe destilados durante a produção. Licoroso quando se interrompe a fermentação e o açúcar é retido. Agora complicou. Um relacionamento intenso e doce. Quem sabe forte quando os perrengues rodeiam. E doce pra permear o caminho, sempre.

Enfim, tem vinho morto, vivo, selvagem, fresco. E por aí vai. Dá pra escrever um livro.

Me desculpem os especialistas, pois devo ter cometido várias heresias nesse texto. Coisa de um mero apreciador de vinho. Um singelo tributo a esse camarada que nos alegra a alma, nos faz produzir, amar, sonhar.

Agora dá licença que, como se diz, vou resgatar um vinho. Tadinho, tá preso na garrafa!

Outros versos e prosas

A dentista e o mané

Rancho da lagoa, 16 de janeiro, 1988, Barra Velha.
Duas turmas, as duas de Curitiba.
Pilhas de cerveja. Em ambas as mesas.
E eu dizia: ainda é cedo.
Pedras brancas e negras.
Céu e lua indecenteme lindos. Covardia.
Telefone trocado.
O encanto subiu a serra.
O mané lembrou, 244-7977.
A Panphylia.
Cabia um mais um.
Coube dois mais dois. Ou melhor, 2+2=5.
1988, 1992, 1995, 1999, 2003.
29 anos.
Muita vida.
No mais completo sentido da palavra.
Em sua plenitude.
Felicidade é assim.
Longe da perfeição, colada no real.
Vamo que vamo.

Outros versos e prosas

Trocando de ninho

Resolvemos nos mudar. Mudar de ninho e, por consequência, mudar a nós mesmos também. Nova fase, novo ninho.

São quase 20 anos aqui. Antes morávamos em apartamento, que era até grande demais quando nos casamos. Casal novo, sem filhos. Bora mobiliar, deixar do nosso jeito. Um dos quartos virou closet, o outro, escritório.

Três anos depois nasce a primeira cria do ninho, encomendada um pouco depois da copa do mundo nos EUA. O closet foi pro espaço. Passeios no parquinho e na praça. Voltas de carro pra fazer dormir. Primeira cria é assim. Tudo nos conformes.

Mas uma cria só não tem graça, né? E pra tornar isso realidade o espaço era pequeno. Emendamos a procura de uma casa, algo maior. Eu queria espaço, um terreno pra me espalhar. Procuramos bastante até encontrar o nosso novo ninho. Eram 56 casas, treze delas já vendidas. Olhamos com cuidado o mapa do condomínio e encontramos algo especial, bem no final, lá pertinho da quadra e do salão de festas. Com um terreno bem bacana também. Perfeito. Contas daqui e dali ... será? Por que não? Fechado!

Namoramos a construção por quase dois anos. Toda semana dá-lhe ver como estavam as obras. Desde o lamaçal inicial até a pavimentação, primeiras unidades construídas, pessoal se mudando, ruas se transformando. E nós três só namorando, imaginando nossas aventuras na nova morada. A nossa foi a última casa a ficar pronta. Pudemos mexer um pouquinho na planta e inverter sua implantação pra aproveitar melhor o terreno. Novamente, a deixamos do nosso jeito.

Nos mudamos voando. Móveis? Pra quê? Grana curta, só mandamos fazer a cozinha e trouxemos alguns móveis do apartamento. Mesa de plástico na cozinha, sofá acanhado na sala enorme. Mas a sensação foi incrível. A liberdade que uma casa traz é impressionante. E seu calor proporcionou a encomenda de uma segunda cria. Dessa vez, a concebemos durante a copa na França, um mês depois de nos aconchegarmos. Depois de 10 meses, o novo ninho cumpriu sua função. Nasceu a segunda herdeira. Quatro anos depois veio a terceira, em forma de pelo e focinho. A casa, digo, o lar estava completo.

Natais, Páscoas, finais de ano, casa enfeitada, o acordar no dia dos pais, das mães, das crianças, festas de aniversário, amizades, filhos dos vizinhos em casa e vice-versa. Uma filha subindo na grade da cancha, a outra abrindo o queixinho na beira da piscina, pula-pula, gesso no pulso de uma e no braço de outra, piscina de bolinha, pizza, muita pizza. As duas aprendendo a andar de bicicleta, patins, skate, jogando bola. Não dá pra esquecer da carinha de surpresa das duas coma a casinha de bonecas. Ficou disfarçada de material de construção no quintal durante meses. E, como por mágica, surgiu iluminada na noite de Natal. Essa casinha, aliás, há anos foi iluminar outro quintal.

Pé de pitanga, araçá e tangerina. Passarinhos à vontade: tico-tico, sabiá vermelha, branca, joão-de-barro, corruíra, quero-quero, chupim, rolinha, pardal, canarinho, andorinha, bem-te-vi e, de vez em quando, até jacú. E mais raramente ainda, tucano e pica-pau. No início algumas visitas ilustres de preás e gambás. Mas faz muitos anos que não aparecem, infelizmente.

Transformar ninho em lar. Foi o que fizemos. Agora é um ninho amaciado, cheio de memórias lindas, uma lembrança boa em cada cantinho. Mas é chegada a hora de servir a outra família. De abrigar novas histórias, novos sonhos. Um mix de espaço, tranquilidade, silêncio, privacidade, segurança, paz.

Foram conquistas, incertezas, choros, gargalhadas, brigas, beijos, abraços. Um investimento que de longe superou as expectativas. Daqui a pouco nossas crias vão bater asas e montar seus próprios ninhos. Temos certeza que seguirão os mesmos passos. Mas nós já não precisaremos de tanto espaço.

Agora temos a difícil missão de valorar nosso bem. Algo impossível. Como medir o potencial de felicidade desse local? Como definir em cifras a magia da transformação de casa em ninho, de ninho em lar? Parâmetros de mercado até podemos encontrar, mas não há como precificar a imensa riqueza embutida.

Ah, o lar não dá pra vender. Esse vai junto com a gente. Vamos encontrar outro ninho, aquecê-lo como fizemos com esse e, em pouco tempo, estará repleto de carinho, de vida. Lá outras realizações, frustrações, desejos irão completar seu espaço. Será uma nova aposta, um novo caminho.

Bom, vou ter que parar de escrever. Não é fácil, mas é a coisa certa a fazer. Vamos, como disse no início, nos mudar pra mudar. Pra evoluir.

Como aves migratórias, iremos nos aninhar em outras paragens. Mais leves, mais fortes.

Abraço.

Outros versos e prosas

Saudade boa

Então me conta um segredo. Como faz quando o aperto aporta?

A saudade judia. Muito. Dói tanto que começo a evitar
É como se ajeitar na cama pra não sentir cólica
Um mínimo movimento a ressuscita
É como evitar confeitaria pra não sucumbir ao doce
Mas, insistente, o olfato instiga o desejo

Esquecer não dá, impossível
Relevar, isso sim, talvez até dê
Aceitar a falta
Vai que um dia matamos a danada

Volta e meia me pego folheando álbuns,
     pescando momentos em objetos e lugares
Imaginando que se não o fizer,
     a tênue linha lembrança-saudade vai se partir
Se a lembrança foge, a saudade vai junto

Cutucar a saudade é uma arte
Um ato de extrema coragem
Parecido com aproximar o mesmo polo de dois imãs
A princípio se afastam, mas um descuido aproxima os opostos
Difícil de desgrudar

E assim, de memória em memória,
     rindo pro nada de vez em quando,
     a gente acarinha a saudade
Resgatada por sentidos,
     aconchegada no peito,
     dorzinha boa de doer.

Outros versos e prosas

Açucarada amargura

Momentos de expectativa
Quase te sinto, degusto
Um salivar que dispara
As papilas atiçadas
É tortura,
     não é justo

Te imploro, venhas logo
No teu doce, me açodo
Vivo tudo, como posso
Alma e corpo enfim adoço
Me atraco,
     me acomodo

Divina prova de ti
Pinço o amar d´amargura
Será que o amor gora?
Nunca, é rica mistura
Então vens me amar,
     agora.

Outros versos e prosas

Entrevero com a poesia

Aqui não tem concordância
Pessoas nos verbos tropeçam
Tripudiam a regência
E rima fácil,
     dá ânsia

A preguiça teima, ronda
Aí prevalece o enredo
As rimas ficam pra trás
E forma demais,
     dá medo

A rima às vezes vem
É minha matéria-prima
Não dá nenhum aviso
Anseia ser única, bela

Palavras se acham também
Namoram a estrofe de cima
Rima é como sorriso
Sem graça, fica amarela

Nas estrofes, sutileza
Versos se emendam, se rasgam
Pra respirar, uma vírgula
Pra arrematar, a surpresa

Infinitivo, nem pensar
Ops, tô infinitando
E gerundiar é chato
Capitulei, vou rimar

Métrica então, desista
Medir o pensar não dá certo
Meço o sentir, de perto
Bendito golpe de vista

Com poema, eu lido assim:
Primeiro, conto a história
Depois, o encaro, desnudo
Se desajeitar, eu ajeito
Silenciou, eu aceito
Se tagarelar, eu mudo.

Outros versos e prosas

Pedaço de doce

Teu coraçao me trouxe,
     vai de mim, um pedaço,
     embrulhado num abraço

Queria que inteiro,
     fosse
     praquele que foi o primeiro,
     pro meu verdadeiro doce.

Outros versos e prosas

Cidadão pasteurizado

Curitibano, povo abençoado
Manhã fria, tarde quente,
     noite gelada
Mente forte, alma boa,
     corpo pasteurizado.

Outros versos e prosas

Xá comigo

Vem cá, xá comigo - propôs
Aquieceu, xô contigo
Embrulho de amor, amigo
Duas almas aquecidas
As açucaradas vidas
Desejo lindo, doçura
É o mel que vem, e cura
E urge o querer, agora
Pra todo pensar, tem hora
O amanhã,
          se faz depois.

Outros versos e prosas

Meia vida

Há quem diga que morremos um pouco a cada dia. Será?
Então a vida seria uma coleção de pequenas mortes diárias.
E se a partir de determinado instante aplicássemos algo parecido com o princípio da meia-vida?
Resto de vida dividida ao meio a cada período vivido, digamos.

Ao chegar aos 20, por exemplo, teria 10 anos a mais. Aos 30, mais 5 anos. Aos 35 mais 2,5 anos. Aos 37,5 mais 1,25. E assim por diante ...
O restinho de vida iria chegar a milésimos de segundo e ainda assim seria quebrado ao meio.

Contemplada a matemática, entremos no campo da suposição. Não seria absurdo imaginar que essa dinâmica poderia ser atraente pra um indivíduo com pouco apreço à vida.
Em sua percepção, dia após dia,
          a dor da vida se resumiria à metade, continuamente.
Aparentemente, um processo acelerado.
Pela frente, sempre metade de vida, pretensamente abreviando sua dor.
Até que restasse só um tiquinho de nada, que também seria dividido,
          indefinidamente.
O problema é que, por esse princípio - o da meia-vida - a tendência é o infinito.
Como resultado, a frustração em sua vontade de dar cabo ao existir,
          viveria eternamente,
          apesar de ter sua longevidade definida.
Algo como uma contagem regressiva sem fim.

Como uma paga, a vida eterna,
          sua dor eterna,
          seria sua sina.

A partir desse momento, quem sabe,
          começaria a ver sua vida pelo retrovisor.
Tentaria pinçar os momentos em que a desejou,
          suas motivações,
          suas conquistas não celebradas,
          suas preocupações valorizadas.
Em seus eternos últimos momentos,
           viveria em sonho, reconstruindo o que,
           por toda uma existência consciente,
          projetou ser breve.

Teria a eternidade pra, finalmente,
          recuperar o verdadeiro sentido da vida.
Pra enxergar aquilo que seus olhos,
          mente e coração lhe sonegaram.

Quem sabe, inferir que a vida até pode pode ser uma sequência de pequenas mortes.
Mas a cada acordar ressuscitamos, plenos.
E, ao final do dia, exautos,
          estamos prontos pra desfalecer,
          mergulhar na quietude, na calma.

Perceber, enfim, com alegria,
          que quem morre não é a gente,
          é o dia.

Outros versos e prosas

aLUZinAÇÃO

Foram dias de estraçalhar a alma
Cambaleante, o guerreiro busca outro sentido,
          além de ataque e defesa
Coração zerado, tudo remete ao combate
Precisa, desesperadamente, se reeencontrar

Fadiga que arrebata
Trôpego, cada reequilibrar lhe trucida
Só resta continuar, armado, sussurra a consciência parca
Lembranças boas são flashes, retalhos mal enjambrados, rotos
Sombras na memória. Corpos caídos, revés dos adversários
Vitória? Restou o arremedo de um homem

Visão turva, desconexa
Névoa que a princípio cega,
          imobiliza o ser minguado
Luz que não se consuma, foge, teimosa
Luz que alucina, que salva
Imagem sonhada, quem sabe
Um quê de vida, um quê de dúvida
Novidade já sabida, confusão ordenada
Arritmia orquestrada, um quadro se emoldura
Resgate da consciência, base de toda gana

Retomado o ímpeto, a certeza
Um recomeço, um passo firme
Em átimos de foco, vislumbrada a missão
Discerne seu destino, seus óbices
Seus inimigos distingue
Enverga a armadura, veias constritas
Adaga em punho,
          uma nova batalha.

Outros versos e prosas

Fez

Preferiu o mormaço,
          à frigidez da névoa
Antes a febre,
          que a dúvida da cura
Das cinzas,
          pinçou a brasa
Entre adiar e errar,
          errou com todas as forças.

Outros versos e prosas

Canção de uma vida

Cantei pra ela
Sua respiração, o compasso
Nas mãos, o carinho de sempre
Nos olhos,
          o sorriso brotado do fundo da alma
Num esforço enorme,
          invertendo os papeis,
          pra me confortar

Cantarolou baixinho
Com certeza,
          na mente as lembranças

Um cheiro,
          quem sabe até,
          um gosto especial
Um passo de valsa
Uma brisa à beira-mar
Um suspiro,
          uma conquista
Um cochilo preguiçoso
Um acordar vibrante
Uma canção,
          talvez essa canção
Uma gargalhada gostosa
Uma conversa à mesa
Uma travessura
Esconde-esconde,
          amarelinha,
          balanço,
          gangorra
As amigas do colégio,
          dos lanches deliciosos
Um banho na lagoa
Escorregador nas dunas
Um banho de mar
Marisco, tainha,
          mexerica
Pirão escaldado
A florada do ipê,
          orquídeas, seu quintal
Seus bichinhos
O colo da avó
O dia de seu casamento
O nascimento de um filho
Um Pai-Nosso,
          uma Ave-Maria
Um passear de mãos dadas
Ao recostar, à noite,
          os seus, acomodados,
          dormindo tranquilos
Um abraço comprido
Um beijo,
          um sorriso,
          um carinho,
          um olhar

O peito cansado,
          sufocado,
          de tanto bem querer
Mas igualmente tomado,
          completo,
          decisivamente
          carregado,
          do mais puro
          amor.

Outros versos e prosas

Todos os abraços do mundo

Há muito de carinho na saudade
Muito de saudade no cuidado
Felizes os próximos da gente
Aconchegar o olhar é ouro
Tocar então, uma bênção

Estranha sensação, essa do sentir
Seres especiais nunca partem
Não por completo, por certo
Deixam um sopro, uma brisa
Um conforto, um suspiro

Nessa ou em outras dimensões,
          estão presentes, ancorados
Ficam estampados nos sentidos
Deixam seus conectores por aqui,
          bem pertinho
Basta um cheiro, uma sonho, uma música,
          pra darem o ar da graça

Quem dera abraçar um a um
Não só com a saudade
Limar a distância
Encaixar peito,
          colar coração,
          curar alma
Realinhar, enfim,
          sentimento,
          tempo
          e espaço.

Outros versos e prosas

Nariz e polegar

Hoje lembrei do pai. Estava assistindo ao filme Verão de 92, a história da conquista da Eurocopa pela Dinamarca. O pai jogou nos anos 50 em times do futebol catarinense, América, Operário, São Luiz. Chegou a ser campeão catarinense. Centroavante dos bons.

O filme conta em detalhes a saga do time dinamarquês que, apesar de não ter se classificado para o torneio, foi convidado devido à punição a Iugoslávia, eliminada da competição por problemas políticos.

Era uma época em que os esquemas táticos começavam a imperar. A Alemanha era a última campeã com seu jogo forte de marcação. Por sua vez, a Dinamarca tinha um time certinho, com bons jogadores, mas a tática não era sua melhor qualidade. O filme retrata com perfeição a habilidade do técnico Richard Nielsen, que soube encontrar o momento exato da equipe, lhes inspirando e liderando magistralmente.

Mas não lembrei dele pelo futebol, em si.

Um dos jogadores, Vilfort, deixou a competição duas vezes para cuidar de sua filha Lisa que estava internada, em tratamento. Tinha leucemia e piorou durante a Eurocopa. Antes de deixá-la e viajar para Suécia, Vilfort fez uma brincadeira com a filha. Algo bem simples, mas que me fez voltar aos anos de infância. Ele cortou seu nariz, o colocou em seu polegar da mão direita e o encaixou no narizinho da filha. Pediu, então, que sua filha o guardasse pra ele. Disse que o nariz grande o atrapalhava pra jogar, mas que iria precisar dele depois da Eurocopa.

Mais tarde, enquanto pai e filha assistiam pela TV uma das partidas da seleção dinamarquesa no hospital, ela pediu ao pai que voltasse ao torneio. Ato contínuo, cortou seu nariz e o moldou no narigão do pai. Recomendou que cuidasse muito bem dele, pois gostava muito desse pedaço do rosto. E ele acabou marcando um gol na final!

Meu pai praticava o mesmo ato cirúrgico. Volta e meia roubava meu nariz. E me lembro perfeitamente da gargalhada que eu dava. Era nossa brincadeira favorita.

Hoje recebi um presente. Não me lembro de muita coisa de minha infância. Talvez lembre mais das broncas, das lições. Tinha até esquecido desses detalhes deliciosos com o pai.

Ser pai tem muito disso. A maioria tem pouco tempo pra brincar, mas muito amor concentrado. É bem provável que na memória de minhas filhas as broncas sejam mais marcantes também. Mas algo único deve ficar guardadinho bem lá no fundo das lembranças.

Quem sabe, no futuro, algo resgate em suas mentes nossos momentos especiais.

Outros versos e prosas

Essência de amor

Pinça as melhores lembranças
Colo de mãe,
          calor, abrigo
Casa cheia,
          porta aberta
Vó, mano,
          vizinho, amigo

Brincadeira, riso solto
Sempre as mesmas histórias
Delícia de cumplicidade
Zoações inofensivas
Compromissos na gaveta
Encantadoras memórias

É o esmero no preparo
O tilintar da taça
Retira as melhores louças
Estende a toalha vermelha
Tem o faqueiro tinindo
O tempo congela,
          não passa

Uma pausa pra lembrar
Junto à mesa, uma prece
Uma criança nasceu
Redimiu nossos tropeços
Resgatou a esperança
Nossa fé nunca esmorece

Dá-lhe espiar a árvore
Mente leve, quase à toa
Com a alma flutuando
O peito mais que folgado
Tem pedido impossível
E muita surpresa boa

Lembrou?
Faz o seguinte então:
          espreme teu coração
          vai escorrer alegria
          separa um frasco bonito
          guarda esse sentimento
          e usa no dia-a-dia!

Outros versos e prosas

Eu, nós

Em tua íris submergi
Opaco, me reduzi
Em tuas ventas sucumbi
Inodoro restei
Mimetizei o teu pelo
Simplesmente sumi
Encaixe molecular,
          me dissipei em ti

Simbiose em curso
Rejeição nula
Concedo e peço
Epílogo e prefácio
Singular finito,
          plural alçado
Eclipse de mim,
          clarão de nós.

Outros versos e prosas

Amor presente

Seria um ano intenso. Essa família estava prestes a ser desafiada em sua união, em seu amor. Episódios de superação seriam seu cotidiano. Em sua trilha provas de força, de conhecimento, determinação, resiliência.

Já nos primeiros meses, muito carinho e dedicação. E muita incerteza também. Corações e mentes voltados para o maior dos desafios. A detentora desse duelo era a matriarca da família. Sua saúde de ferro fora abalada. Enfrentaram, os quatro, cada um a seu modo, as fases do tratamento. Em cada escolha a confiança de que haviam tomado a melhor decisão. Sem açodamento ou desespero, um passo de cada vez. Com a graça de Deus, exames recentes apontaram o sucesso de tanto esforço e empenho. Batalha praticamente superada, coragem de mãe e mulher, felicidade de todos.

A caçula da casa, companheirinha de todas as horas, bem-querer embrulhado em pelo branco, deu por cumprida sua jornada por aqui. Seu querubim de quatro patas anexou asas e foi lá pra cima bagunçar. A casa um pouco mais vazia, mas todos certos de que a fizeram muito feliz. Retribuíram um pouquinho de sua ternura incondicional.

As duas crias desse lar cumpriram suas missões com folga. Exemplos de superação, dedicação e competência. No estudo e na vida, orgulho pros pais. Sensação nítida de que, de longe, serão muito melhores que eles. Sua missão, igualmente, sendo cumprida.

Anjinho novo em casa, a família acolheu mais um representante do sexo masculino. Um cãozinho, pedaço minúsculo de afeto. Também branquinho, surgiu como um último carinho da avó que os deixou esse ano, e agora os vela com os outros três avós. Foi seu parceiro por quase dez anos. A esse ponto, com certeza, a proteção celeste está fortalecida.

Em meio a tudo isso, um pai-marido embevecido com a força dessas três mulheres. Tem seus desafios também. Segue firme, cada vez mais consciente de que tudo tem sua hora. Aprendeu, observando suas garotas, que mais do que realizar, é preciso estar preparado. Talvez seu maior mérito tenha sido dar valor a estar presente, tentando equilibrar proteção e espaço. Promete melhorar, pois tem plena consciência de que esse é um desafio constante. Melhoria contínua, nesse caso, não é mera prática de gestão empresarial, é seu dia-a-dia, no seio de sua família.

É tempo de celebrar as festas de final de ano. Serão dias especiais. Dias de puro agradecimento. O filme do ano em suas mentes, ainda acontecendo. Intensidade, carinho, compreensão, estímulo. Preocupação, conflito, também rondam. Como não rondariam uma família de raiz portuguesa-indígena-ítalo-espanhola? Uma rica mistura, matérias diferentes reagindo, em ebulição. Um preparado rico, essência viva, especial.

Estão aprendendo a valorizar e celebrar as pequenas vitórias. A perceber que os desafios sempre estarão presentes e precisam ser encarados, de frente. A enxergar nas aparentes perdas os ganhos muitas vezes sonegados. A reconhecer que, acima de tudo, a caminhada é o que importa e deve ser percorrida passo a passo, juntos.

E o principal: sabem que podem contar uns com os outros,
                    como se um só fossem.

Feliz Natal
            e um 2018 incrível!

Outros versos e prosas

2 segundos

Foi só um oi, um sorriso discreto com o canto da boca, e um tudo bem com o olhar fixo, sereno.

Fazia anos que não se viam. Dessa vez foi um encontro ao acaso, cada um com seu par, num restaurante lotado. Haviam traçado suas vidas, trilhas seguras em seus lares, com suas famílias. Mas naquele instante, ali, algo parecia inacabado, mal resolvido.

Não era parecido com o que os uniu, muito pelo contrário. E não demorou pra ambos decifrarem o momento. Talvez estivessem prontos, depois de algum tempo, pra reatar a amizade, origem de tudo. Porém, tinham plena consciência de que o cenário atual de suas vidas não favorecia tal iniciativa, por mais atraente que fosse. De qualquer maneira, um sentimento bom de afeto e cuidado os arrebatou.

Aquele oi-sorriso-tudo-bem durou 2 segundos, mas foi como se tivessem recitado um longo poema, contando suas aventuras, seus desafios, suas vitórias. Foi como se, sentados à mesa, conversassem sem pressa durante a tarde inteira, revivendo sua rotina de tempos atrás.

A essa altura não precisam mais se falar, nem trocar confidências. Não sentem necessidade da presença, nem do toque. Estão realizados, completos em suas relações. Enfim, uma sensação difícil de definir. Agora carregam no peito algo que soa bem melhor, muito mais significativo que a saudade.

Aguardarão outro encontro pra quem sabe daqui a alguns anos, em mais 2 segundos, renovarem o conforto e a certeza de que estão bem. Estão muito bem.

Outros versos e prosas

A melhor distância entre dois seres

Lhe ensinou que a vida
                    não é uma linha reta.
Ele, mero rabisco,
                    sem seu pulso e seu peito,
                    nem ponto seria.

Outros versos e prosas

Maridão rivotril

Ouviu uma das maiores declarações de amor
                    que um homem pode receber.
A esposa conversava ao telefone com uma amiga,
                    passava por um momento extremamente difícil.
"Eu não vou tomar antidepressivo.
                    Não preciso.
                    Meu marido me diverte".

Outros versos e prosas

Ana. A gente tem a nossa

Não dá pra contar só uma história, um lugar, um sorriso, um carinho. Tem uma penca. Cada um de nós carrega no peito vários motivos pra lhe querer bem. Muito bem.

Longe de tentar explicar porque essa menina nos faz sentir tão especiais. Afeto não se define, se sente.

Nossas batalhas acolhe com um coração gigante.
As suas, atropela e faz a gente parecer pequenininho.
E no final das contas, nos faz gigantes também.

Quem tem uma Ana, tem tudo. Quem tem a nossa Ana tem infinitas vezes mais. E ela nos tem. Tem a todos nós, sem exceção.

Ana, não é só esta data que é querida, viu?

Vem ni nóis.
Vem que a gente te aperta.

Outros versos e prosas

Feliz 2015

Todos tivemos nossas vitórias, nossas decepções. Pudemos compartilhar algumas delas.

Porém algumas delas não dividimos, talvez as mais importantes.

Quero que 2015 venha repleto de conquistas e de algumas derrotas também, e que sejam em ambos os casos motivos para o crescimento.

2014 me reservou momentos especiais.Vai um abraço apertaddo em todos os amigos que vibraram comigo nas conquistas e emprestaram seu ombro para curar minhas mazelas.

Vocês fizeram e farão parte de minha caminhada. Àqueles com os quais tive o privilégio de comemorar e consolar quase que em silêncio, mando também um pedaço de meu coração, um viva e uma lágrima, por que não?

Um 2015 maravilhoso! Melhor que 2014 e pior que 2016!!!

Outros versos e prosas

em-PRESA, Estado predador

Assunto mais que batido, mas não custa espernear mais um pouco. Existem exceções, mas, infelizmente, essa é a regra.

Enquanto você empreende, o Estado prende. Risco não é com ele. Aliás, adota a lógica obtusa de querer que sua emPRESA tenha lucro - e empregue - mesmo com todas as armadilhas a que a submete. Aí então, depois que você foi jogado na cova dos leões, se desviou de todos os perigos, ele vem e fica, na melhor das hipóteses, com metade do seu resultado.

Se traveste de grande produtor e fornecedor de energia, gerencia bancos, opera negócios muito longe de seus objetivos. Imensa cortina de fumaça pra justificar sua cara e ineficaz estrutura. E quando se arvora a controlar e fiscalizar, via de regra, transforma-se em agente oficial de interesses de terceiros.

Como se sabe, quanto maior o Estado, menor o cidadão. Um Estado que promete tudo, cobra caro por isso, e acaba por nada entregar gera um cidadão decepcionado, descrente. E o pior, muitas vezes o próprio cidadão deixa de cumprir ações básicas de cidadania.

O termo sonegação começa a fazer sentido. Mas no caminho inverso. Quem sonega, se exime de prestar serviços, esconde, desvia e drena recursos, não é o cidadão. É o Estado.

Pra crescer precisamos de cuidados, de água, sol, nutrientes, de ar. Por enquanto estão apenas nos caçando, nos colhendo. E estão colhendo frutos secos, abatendo lebres fracas, esqueléticas. Aliás, não custa lembrar que somos animais silvestres, nascidos pra sermos livres, temos todas as condições de gerar riqueza, de distribui-la. Não precisamos de tutela.

Estado predador, emPRESA, acuada, no fim da cadeia alimentar. Ou melhor, Estado carniceiro mesmo. Nem se dá ao trabalho de caçar. Prepara um ambiente de miséria e deixa que suas vítimas se mutilem pelos parcos recursos. Depois é só recolher as carcaças.

Outra analogia pertinente é enxergar o Estado como um parasita. Se alimenta aos poucos, introduzido na estrutura das emPRESAS. Mas, como todo bom parasita, não a mata de uma vez. Precisa de um corpo vivo, mas entregue, sem forças. E quando sua vítima finalmente perece, tem a pachorra de a rotular de ineficiente.

Um dia, quem sabe, teremos um Estado focado em educação, saúde e segurança. Um Estado justo que saiba identificar quem realmente precisa de seu auxílio nessas áreas. Um ente minimamente centralizador de riqueza e de poder. Que se transforme em refúgio seguro onde possamos buscar valores, exemplos. Um suporte.

Como uma mãe, um pai, que sabe a diferença entre o simplismo do dar e a riqueza do formar. Que com sabedoria sabe dosar cobrança, ajuda, investimento, estímulo. Que aplica com perfeição o reconhecimento e sabe da importância do mérito. Que deseja, acima de tudo, que seus filhos sejam plenamente capazes de conduzir suas próprias vidas.

Outros versos e prosas

Sobre ratos e baratas

Revisitei um verso:
"Na volúpia da indignação, atracar-se com a coragem, viver o clímax na ação", um trecho do poema Tenha um caso , do livro Sorve o verso, sopra a prosa

Mas é tempo de perguntar: que indignação?
Cansei de me indignar, ir às ruas, protestar
Já não me indigno mais
Vivo em outro mundo, outra dimensão. Só pode ser isso
Mero mortal admirando um Olimpo de Hades

"Eles"? Continuam em sua casta, não dependem do mercado
Têm suas couraças reforçadas
Eu, me recolhi à minha insignificância
Sou esporo, mínimo e persistente

Farei como a rã no deserto. Me enterrarei até a próxima monção
Por enquanto, vou levando com chuvas esparsas,
                    providenciadas por "eles" que nos querem vivos
Chuva boa, só no topo da cadeia alimentar

Dinossauros morrem, baratas prosperam
Sou barata, careço de pouco oxigênio
Não me apequenei, foquei o essencial
Permaneço forte, latente

Só que virei adubo. Adubo orgânico. Me decompus
A cada eleição, enriqueço a mistura,
                    nutro uma plantação de corruptos
A cada imposto pago, fortaleço sua horta,
                    e de seus patrocinadores

Há de chegar o tempo em que até as migalhas faltarão
Persistente, ainda existo
Mente e sinapses vivas
Porém reconheço, o estômago já começa a reclamar,
                    a tomar conta

Última instrução na mente: resistir
Adrenalina suficiente
Vasos constritos, não sangrarei na luta
"Eles", não sei
Não serão os únicos a desobedecer a lei impunemente
Legislar em causa própria já não será possível,
                    a lei não terá mais valor
Desobediência civil como prática,
                    início do emagrecimento do estado

Dessa vez o embate não será nas urnas,
                    nem nos tribunais
Prestarão contas a buchos vazios,
                    aliados a mentes evoluídas
Como ratos acuados, clamarão pela corda do navio
Sorverão o próprio veneno, sucumbirão

Irei prosperar, então
Diminuirei o estado
Realinharei ação e consequência
Resgatarei o mérito

Bioma recomposto,
                    voltarei a ser gente
Livre, renovado e atento
Eficiência de barata,
                    imponência de dinossauro
Mente aguçada, produtiva
Estômago manso, dispensarei migalhas
Serei adubo de boas ações
Rã hidratada, tranquila na lagoa
Adrenalina, só da boa
Artérias e veias calibradas
Mortal autônomo, inspirado por Zeus

Pronto pra me indignar,
                    ter coragem,
                    e agir.

Outros versos e prosas

contato

Carlos Eduardo do Nascimento

Curitiba - PR - Brasil

carlosedun@gmail.com

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